terça-feira, 23 de setembro de 2008

Nostalgia Parte1 – Felicidade




Faço uma breve apresentação do filme Nostalgia. Um filme que pouco se entrega na fala dos seus protagonistas, mas que muito diz em suas imagens e sons. Não compensaria dizer sobre o enredo pois é o que menos importa no longa. O filme passa varias mensagens que diferentes pessoas tomariam diferentes tipos de conclusões. Por ser bagunçado? Não, por ser profundo. Uma das mensagens que escolhi para abrir a série “Nostalgia” foi; Felicidade.
O poeta, representando o Ser, acende uma vela curta com objetivo de atravessar uma piscina publica com águas termais da Itália, já praticamente seca e com algum tipo de poluição química, no ambiente há uma leve brisa, inofensiva. Na sua primeira tentativa, ele anda, protegendo a vela com sua mão esquerda e as vezes com seu paletó, tentando assim quebrar o vento para não apagar a vela. Tentativa falha depois de um minuto e alguns segundos andando em silencio. Ele olha ao seu redor pensando em acender a vela dali mesmo, da metade do caminho, porem volta ao ponto de partida e reinicia sua reza. Acende a vela e volta a andar. Desta vez existe um ar de esperança passado pelo poeta e pelas imagens. Agora já ultrapassara o lugar de onde tinha parado da ultima vez. Porem, para sua agonia, seus esforços repetitivos foram em vão. Já um pouco cansado, talvez por causa da poluição da pequena piscina que tem uma certa parecença com um rio que corta uma cidade, ele olha para sua meta, o fim do caminho. Olha para trás e da uma leve passada na vela. Volta novamente ao começo de tudo. Novamente acende a vela e volta a andar. Mais de dois minutos caminhando, prendendo o olhar e a mente do telespectador. Desta vez ele chega perto, dois passos faltam. Cambaleando, sendo vencido pelo ambiente execrável, apóia-se numa escada, ainda tomando cuidado com a chama da vela. Um passo. Estica seus braços, não podendo mais andar. A câmera acompanha a viagem da chama ate seu final. O poeta, não mais visto, inclina um pouco a vela para deixar escorrer a parafina num suporte do muro. A vela é fincada e as mãos do poeta caem lentamente, demonstrando que foi vencido, falecendo ali mesmo, no fim de sua busca.
Brás Cubas levado por seu hipopótamo rosa a Pandora, origem de tudo, diz que foi apresentado a gigantesco turbilhão contendo a vida efêmera e inútil que os homens levavam. Dentro deste turbilhão, que era a vida, havia uma imagem embaçada, que corria livre enquanto os homens corriam desesperados atrás dela e as vezes, se deixava pegar por eles e quando eles riam e diziam “pronto, agora eu te tenho” ela os largava e voltava a correr fazendo seus caçadores entrarem em desespero voltando pois a correr atrás dela. Pandora balbucia para Brás que aquele ser sapeca que se deixava pegar só para sua própria alegria era a tal Felicidade.
Se você, meu caro leitor, ainda esta a ler estas palavras chatas e maçantes, te digo que há pouco a ser dito. Nós, Seres, buscamos a Felicidade, lutamos por ela, choramos por ela e quando temos uma suposta sensação de tê-la alcançado, ela corre, nos fazendo recomeçar novamente a nossa caminhada assim como o poeta com sua vela. Passamos a vida em busca do que nos faz felizes, alguns se apegam com ilusões de felicidade; que como já dizia Mario Quintana; “Isso pode ser alegria, paixão, entusiasmo, mas não felicidade...”. Já outros a buscam incessantemente e às vezes inconscientemente. Tentando, tentando e tentando almejar a tal Felicidade, nos iludimos, brigamos, cresce em nos um sentimento egoísta por causa de uma felicidade particular que queremos a todo custo.
Assim como o poeta que teve sua Felicidade já em sua morte, talvez assim seremos nós. Mesmo com o sentimento, que segundo a mitologia, Prometeu implantou no mundo, a Esperança, que cega e da força aos homens para continuar a lutar por suas vidas passageiras, não será o bastante, talvez, para alcançar a Tal Felicidade.

3 comentários:

Anônimo disse...

até que enfim um blog legal entre tanta porcaria

Bruno N.M disse...

Brilhante!

Tallita Fernandes disse...

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