quarta-feira, 31 de julho de 2019

Um amigo verdadeiro

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Começou um pouco depois do verão de sessenta e sete, assim que as vozes pararam.
Primeiro comecei a deparar-me com ele nos corredores. Sempre muito simpático e gentil, uma pessoa que alguns diriam ter uma boa energia. Não me lembro ao certo quando começamos a conversar, talvez minha mente apagou como faz com traumas muito intensos. Começamos a estudar juntos e suas ideias me impressionavam cada vez mais. Seus pensamentos sobre a solução da problemática da fome, a política de mercado do país ou suas inspirações sobre o amor me deixavam sempre com um ar de que o mundo precisava conhecer aquelas ideias.
Não sei se por falta de interesse ou por acaso, sempre que citava as conversas sobre ele com meus outros colegas, se faziam de desentendidos ou tentavam assimilar de quem estava falando. Uns “o de blusa azul?” ou “não me lembro de ter visto” sempre eram ditos após eu falar dos assuntos que ouvira de meu confidente. Coincidentemente, sempre que o chamava para apresentar aos outros, ele estava ocupado com uma nova ideia ou uma aula que não podia perder.
Dizia que estava lá fazia tempo mas sempre que eu comentava sobre ele com os outros, a questão sobre quem era o protagonista ficava sem resposta. Eu não entendia como alguém que passava horas e mais horas contando sobre tantas coisas importantes e uteis não era ouvido como deveria. Como ninguém ainda o conhecia? Foi ai que tudo começou.
Numa tarde questionei sua falta de vontade de se entrosar com outras pessoas e tive como resposta; “um homem só, é um homem mais útil”. Confesso que concordei, talvez já pelo excesso de simpatia ou por me identificar demais com tantas palavras que já havíamos trocado até ali. Afinal, amigos aceitam. Mas durou poucos dias.
Na tarde de quatorze de janeiro o interpelei nos corredores e sem avisar para onde ia o deixei cara a cara com meus amigos; “pronto, agora vocês conhecem o rosto dono das histórias que sempre digo”. Minha espinha ainda dói quando lembro, podia sentir aqueles olhares.
Ninguém o via.
Alguns trocaram vistas franzindo a testa, tentando disfarçar a cena que presenciavam enquanto eu inutilmente mostrava um fantasma. De pé no centro da atenção da roda, revelando algo que nunca existiu, senti um frio nas juntas do joelho. Meu amigo confidente era fruto de minha própria solidão.
Ainda ali sob o os olhares de julgamento da plateia que eu mesmo criei, catatônico e incrédulo, olhei nos olhos de minha imaginação meio triste meio congelado:
- Você não existe... – lamentei.
- Você também não – tocou em meus ombros, virou as costas e partiu.
Ainda o vejo nos corredores. E confesso doutor, que vez ou outra suas histórias ainda me prendem.

terça-feira, 30 de julho de 2019

Tereza

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Querida Tereza,

Sei que deve estar surpresa a receber essa carta, já faz algum tempo que não escrevo. Porém, a situação mudou e me obrigo a dizer o que irei lhe dizer. Entendo sua hesitação em me ouvir e espero que não rasgue esta carta antes de terminar de lê-la.
Desde minha partida na primavera, sinto como se minha mente e coração nunca estivessem subido no trem. Meu trabalho aqui tem sido árduo e diariamente me pego fazendo algo errado por ter os devaneios na sua pessoa. Minhas noites no galpão são solitárias e minha única salvação é uma janta que tem sido meu único momento de paz no dia. Quem diria. A felicidade num prato recém vazio. Alguns colegas de trabalho tem perguntado sobre minha vida particular, mas não me dou ao luxo de replicar novamente histórias que já me cansam os ouvidos. Isso tem me deixado com a fama de alguém de poucos amigos. Mal sabem eles o tamanho de minha lepra.
Mas não quero lhe encher de assuntos cotidianos sem sentido, lhe escrevo apenas para uma coisa; Eu te amo Tereza.
Nossas vidas cruzaram e momento certos demais e a perfeição não é do costume de muita gente. Tenho saudade de seus afetos e poemas, de te ver dormindo nas tardes frescas, suas caretas e vícios. Tenho saudade de você Tereza. Nossas almas infelizes gargalhavam de solidão. Vez ou outra me pego repetindo seus atos que ficaram cravados em meu personagem. Escrevo com uma pena e pouca tinta, me desculpe caso não fique claro algumas palavras, a luz vem de uma vela já quase a findar. Mas nenhuma escuridão me atrapalha tanto quanto a de minha alma. Em poucas horas as sirenes vão tocar e voltarei a labuta, e não sei em quanto tempo terei essa leitura em suas mãos, nem ao menos se sairá de seu remetente. Então me limito a resumir minhas tristes vontades a um papel, uma pena, uma vela e uma esperança que não queima mais que esse pavio que me ilumina.
Tereza, se algum dia me libertar desse campo de concentração, quero te encontrar e lhe amarrar em meus braços para que sintas meu coração morrer de tanta vida. E se acaso nosso encontro não ocorrer saiba que sempre lhe amei, pois várias me tiraram as vestes mas só você me desnudou a alma.

sábado, 27 de julho de 2019

Intervalo...


Não fizemos nosso filme
Nem gravamos nosso romance
Não poetizamos nosso sexo
Nem recitamos nossa historia
Não declaramos nossa inocência
Nem gritamos nosso amor
Quem parte assim?
Com tanta vida pra traz.
Só os tolos
Só os sábios
Só os loucos.

Que nem...

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Que falta você me faz
Que nem selinho de quem diz que vai
Que nem borracharia na beira da estrada
Que nem sono que bate e fica
Que nem ouvir Janis abraçadinho
Que nem perguntar se comeu
Que nem sair agasalhado
Que nem cafungar choro
Que nem beijar devagarzinho.
Que nem sol fresco na pele
Que nem andar descalço
Que nem ré menor
Que nem ver céu estrelado
Que nem você e eu
Que nem saudade de quem morreu.

sábado, 20 de julho de 2019

Nada

Aparato constituido por un reloj de sol ubicado en el plano del meridiano, con el cañón apuntando al norte. En el momento del mediodía la lupa concentraba los rayos solares justamente en el oído del cañón, produciéndose la detonación de la pólvora y anunciando el mediodía local verdadero de aquel punto.


Reverso ao morto
Entrego-me ao surto
De não estar dentro de mim.
Virado em pó
Luxuria pueril
Meu ser, não mais eu,
Desagua em força de dor.
Vida essa
Que passa mansa,
Falácia inútil de todos nós,
Engana o mestre de todo caos.
Perdido fico
Envolto a solução
De um dia, talvez,
Esse corpo que tanto padece
Não sofra os males
Da minha falta de prece.

Somos todos Cuzões


Cada signo tem seu lado obscuro, muitas vezes escondidos pelo horóscopo. Veja o lado sombrio do seu signo.

Em alguns estudos, a realidade nunca foi apresentada diretamente ao ser. O mundo fenomênico como conhecemos é uma ilusão traçada e criada pela percepção de nossos sentidos. Sendo assim, toda informação traduzida do exterior para nossa mente – que contumazmente mente – é um resquício de realidade deturpada fundida com nossas experiências passadas, quiçá, futuras. Em resumo, tudo que vivo e absorvo dessa realidade, nada mais é que um espelho embaçado e quebrado a duas milhas de distância no qual eu tento identificar o reflexo de um desconhecido. E com essa percepção cientifica que julgamos tudo e todos.
Dito isso, entendemos que a construção racional baseada apenas em percepções externas, não vale esterco. Se apenas uma baixa porcentagem de minhas ideias são firmadas em uma meia verdade, de onde vem todo resto? Apenas de dentro.
Através de um conflito incessante, afiamo-nos uns aos outros através de sentenças e certezas, sem saber que em todo tempo falamos de nós. A convivência faz o outro se tornar carrasco de nossa estabilidade. Tudo que te incomoda no outro dói porque a agulha vem de dentro, e nem chega a sair, fica perfurando cada entranha de carne vermelha dentro do peito.
Incapazes de aceitar, renegamos diariamente nossos demônios e carimbamos o próximo com nossa ignorância. Julgamos os bons, os maus, os certos e os errados, os belos e os feios e assim fugimos de nossa responsabilidade, terceirando nossa culpa.
Você é um cuzão. O outro só te revelou. Talvez o outro também seja, mas você nunca saberá por que o que se pensa das atitudes alheias vai ser sempre o que se pensa de nossa própria atitude. Como fugir então da mentira do julgamento inexperiente e infantil?
Não se foge, se redireciona. Entenda que a existência do outro não pode ser moldada a sua e que as suas experiências, sejam elas boas ou miseráveis, não podem ser usadas de padrão para o que é certo ou errado. Julgar o outro pela nossa medida é aceitar que também podemos ser julgados pelo peso do outro, e creia, o peso alheio é sempre injusto.
Quando Jesus disse “quem não tem pecado que atire a primeira pedra”, a tradução origina deveria ser; Quem nunca foi cuzão que de o primeiro tapa.

quarta-feira, 10 de julho de 2019

Meia dor



Todas as canções falam de ti
As cruéis, as poéticas
E as de aninhar no coração.

Todas as dores sentem você
As que doem na mente
E as que acalentam o coração.

Todas as poesias são odes a seu corpo
As puritanas e sensíveis
As de fogo e de tesão.

Todo universo reclama teu nome
O caos organizativo
E a ordem das leis absurdas.

Tudo em mim repudia a ti
Meu pulsar de tedio
Meu pulsar de ódio.

terça-feira, 9 de julho de 2019

Intervalo


Amor é tudo aquilo que a gente não pode evitar
Amor é chutar quina
Trupicar na rua
É espirro
É pé gelado.

Amor é tudo aquilo que a gente não pode evitar
É estrela cadente sem tempo de avisar
É respirar fundo
Pigarrear sem graça
É alface no sorrir.

Amor é tudo aquilo que a gente não pode evitar
É dor de dente que dói e vai
Arranhar de joelho
É calo pequeno na cabeça.

Amor é tudo aquilo que a gente não pode evitar
É pingo de chuva
É furo no bolso
Preguiça de segunda
É cantar de pássaro de manhã.

Amor é tudo aquilo que a gente não pode evitar
É sandália quebrada
É lagrima no olho
Sorriso sem graça
É errar o caminho.

Amor é tudo
Aquilo que
A gente não pode
Evitar.
É deitar mansinho
Feito um ninho
Isso é amar.

segunda-feira, 8 de julho de 2019

Não era você


Ontem transei com você
Eram outros lábios
Outros olhos
Outro corpo

Não era você

Acariciei seus cabelos
Apertei sua cintura
Beijei sua boca
Senti teu toque

Não era você

Cheirei seu pescoço
Inundei com meus dedos seus cabelos
Apalpei suas partes
Senti suas pernas

Não era você.

Suei no teu corpo
Marquei tua pele
Findei o meu sonho.
E no fim
Eu transei com você.

Mas não era eu.
Não era você.

Medo



Não temo seu corpo com outro
Nem seus beijos lascivos
Temo seu coração aberto
E seu olhar apaixonado.

Não temo seu sexo casual
Nem seus dedos em face
Temo seu sorriso manhoso
E sua fala tranquila

Não temo suas noites com outrem
Nem suas mentiras de amor
Temo sua sinceridade
E seu toque puro

Não temo sua paixão ardente
Nem suas juras noturnas
Temo sua alma com outro
E seu abraço sincero.

Não temo a morte, a vida
A dor e todos os males que o universo da.

Temo tu pra sempre longe
Temo tu pra sempre fim.

Poeta


Entendo os poetas agora.
Aqueles sofridos e exaustos.
Amantes com o peito quente.
Do borbulhar espumante nas vísceras.
Todos me fazem sentido,
E de todos tenho completa e plena
Compaixão.
Sofredores ocultos de dores intraduzíveis
Se esgueirando entre um coração e outro
Na esperança de findar sua dor.
Suas musas cruéis
Suas histórias apocalípticas
E seus desfechos absurdos.
Entendo os poetas agora.

Tomara que me odeie


Tomara que me odeie.
Que me odeie pra sempre.
Com todas as suas forças,
Com todas suas camadas.
Menos que isso não seria você.

Tomara que me odeie.
Que me odeie com toda sua ânsia,
Com seu rancor,
Com sua ira.
Que sua intensidade me afogue

Tomara que me odeie,
Que me odeie com seu olhar,
Com seu encanto,
Com seu desleixo.
Que eu sinta seu furor

Tomara que me odeie.
Que nunca olhe pra mim
Com seu olhar dengoso,
Com seu lábio fofo.
Que eu morra de saudade

Tomara que me odeie.
Que nunca me perdoe.
Que se um dia,
Sua ira não me sucumbir
E seu abandono não me dilacerar,

Tomara que me ame
Como sempre me odiou.

Plumas, penas e prisões

  - ... três meses de prisão preventiva.. O promotor vestia esses lenços pretos no pescoço, uma espécie de babador ao contrario. Faltava-l...