quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Invasão Alienígena (ou quase isso)


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- Desculpe, mas acredito que não entendemos.
- Qual parte?
- Basicamente, tudo.
A sede da ONU estava um alvoroço desde que os seres de outro planeta chegaram com suas espaçonaves invadindo os céus. De início acreditava-se ser uma invasão, mas aos poucos os diálogos foram se alinhando e os motivos da visita foram ficando claros. Neste momento as maiores autoridades do mundo se reunião com os seres de outro planeta para falar sobre sua inesperada chegada.
- Como assim tudo – disse uma das autoridades das Nações Unidas – mostramos perfeitamente como funciona nosso mundo.
- Funciona? – questionou um dos visitantes. Eles realmente se pareciam com as fabulas; pés, mãos, olhos grandes e gestos limpos. Calmos e pacientes – em nosso planeta esta palavra tem um conceito diferente, acredito.
- Então nos diga – disse um dos presidentes da América do Sul.
- Nos perdoem por, talvez, sermos tão ignorantes diante de suas leis e princípios. Mas me corrija caso estejamos errados; o conceito de “funciona” para vocês é que a máquina operacional do mundo continua a girar apesar das dificuldades. Dificuldades essas que vocês mesmos criaram e as mantém mesmo tendo em mãos total solução para esses males. Delimitaram terras vastas para depois vender para seus nativos. Criaram sistemas de castas, quando não explícitos, ocultos por um conjunto de “etiquetas” e regras determinando quem é o melhor ou pior. Subjugaram seus iguais durantes séculos apenas por não terem cores parecidas ou terem costumes diferentes de vocês. Trocam alimento por um papel com um número ou algumas, como vocês mesmo chamam, moedas. Alinhando assim os que possuem menos destes itens, em situações precárias de saúde, moradia, alimento dentro outros males. Por alguns motivos que ainda não entendemos, sua espécie trava guerras sangrentas com irmãos de pátria ou de terras diferentes. Crescem como uma praga descontrolada consumindo tudo que veem pela frente. Matam, saqueiam, abusam do poder que acham que possuem. Sua esplendida criatividade para realizar feitos maléficos para seus próximos é de uma admiração espantosa. Nos desculpem se a palavra “funciona” não funciona bem até aqui. Vocês nos disseram sobre seus avanços tecnológicos e crescimento evolutivo, digo porém a vós, como definem crescimento? Menosprezar alguém que não se encaixa no padrão hierárquico ou financeiro de sua classe jogando-o aos animais e as margens é realmente necessário para que tudo isso “cresça”? vocês criaram problemas com o clima, com a fauna e flora deste planeta com um discurso moralista de ganho e evolução, deixando sempre aqueles que eram para ser os privilegiados por esses avanços, a mercê de qualquer possibilidade de futuro. Dinheiro, poder, ilusão.
- Não é bem assim... – gritou uma voz no silencio do salão principal.
- Não?! Então devo admitir que nossa espécie não está evoluída o suficiente para entender os Seres Humanos. Centenas de espécies foram extintas graças a uma espécie de praga que vocês carregam, que posso aqui chamar de ganância. Uma tentativa desesperada por acumular coisas que não poderão levar após o fim de suas curtas vidas, vidas essas que menosprezam com tamanha ética. Vocês criam a doença e depois se regozijam com a cura, quando na verdade um simples pensamento logico poderia evitar toda pandemia. Novamente peço desculpas. Poderia ficar algum tempo falando sobre várias outras explanações que não nos fazem sentido. Sentimentos, doenças, fome, dinheiro, razão, vida, família, tecnologia, morte – fez uma pausa e olhou ao redor – porém percebo a cada instante que estão certos demais para vislumbrar vossas decadências.
Alguns olhares temerosos foram trocados.
- Então o que vieram fazer aqui? – perguntou o presidente da ONU.
- Sua Terra é rica e poderosa. Na crença que poderíamos nos aliar a sua espécie traçamos tal viagem. Mas em acordo com meus iguais, decidimos partir e voltar num futuro próximo.
- Por que essa decisão?

- Somos seres pacíficos – respondeu se retirando com todos os outros seres – não travamos guerras. Porém, pelo caminhar lógico de seu sistema que “funciona” tão bem, poderemos voltar em alguns anos, na certeza que tudo isso que vocês lutaram e defenderam como sendo o certo a se fazer maquiando essa vontade insaciável de poder, estará reduzido a pó junto com seus corpos e poderemos iniciar uma nova colônia, com bases firmes e reais. E novamente nos perdoem pelo incômodo, mas antes de irmos, poderíamos falar com alguns golfinhos? Seus cérebros evoluídos têm muito a nos ensinar.

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Ânimo, do latim, Alma

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A gente só cansa as vezes.

O sol acordou e a cama não nos larga. A noite foi mal dormida e a insônia é sempre a melhor companhia. Sair não é mais tão interessante e as discursões perderam seu brilho.

Desista-se dos sonhos, desejos, vontades e a única coisa que queremos é um lugar de silêncio pra tomar um chá.

A gente só cansa as vezes.

Cansamos do trabalho, das pessoas, da família, cansa-se da vida. Perde-se a tara pra sacanagem, pro álcool e outros prazeres. Cansamos de dar justificativas, de falar do amor, de rir das piadas e de tudo que antes era pulsão na nossa alma.

A gente só cansa.

E nem é mais tão sofrido, porque cansamos também do choro notívago, da auto crítica, de buscar soluções e das tristezas comuns. Cansamos de ficar cansados. Cansamos até de tentar morrer depois de tantos ensaios elucubrados.

A gente só cansa as vezes.

Cansamos de nós e da dura impossibilidade de poder descansar.

Cansamos de não poder ficar cansados. De estar sempre dispostos. Simplesmente cansamos.

A gente só cansa.

Cansamos do descanso e do cansaço. Nada demais. A gente só cansa as vezes.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Cinema, cafuné e um sexo selvagem. Porque o Amor me da ranço

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Um cigarro de maconha, uma mancha de vinho no braço do sofá e a televisão ligada na netflix. Ozark, série da vez. Assim eram suas noites já faziam algum tempo.
Vez ou outra sempre tinha seus contatinhos prontos pra afagar seus desejos e bater um papo nos botecos das esquinas da Asa Sul em Brasília. Tinha até um em especial que era o que ela mais gostava. Mas ele se perdeu, “porque você veio com esse papo torto?” relembrou.
     Haviam se conhecido num aplicativo e se encontrado no Pátio Brasil perto do que antes era a velha fonte, “não sei porque tiraram ela daqui”. Foi uma noite “xuxu beleza”, como ele mesmo havia dito enquanto comia o resto da comida do Panelinhas na sua frente. Ela riu, ele tinha sido muito simpático e engraçado.
    Cinema, lanches, shows, bares, sexo e mais sexo foi dali em diante. Nasceram um para o outro. Dick e Jane, a dupla perfeita. Ela adorava seus papos. Astrologia, politica, filosofia, trabalho, teletumbies e até aquele desenho estranho com um menino e um cachorro amarelo. Ele era fã de Caetano mas dormia ao som de Slipknot. Vez ou outra entrava na Saraiva só para passar os dedos nos livros pra ter aquela sensação deles os pertencer. Ela adorava suas estranhezas.
    “Eu to gostando de você”, assim que ele fudeu com tudo. 
    “Qual o problema das pessoas?”, pensou. Porque tudo tem que acabar em namoro, casamento, filhos, noivado? Depois de algum tempo tudo que ela queria era alguém legal pra poder curtir os dias estranhos. Nada de possíveis namoros ou coisas sérias, só uma pessoa com seu mesmo animo. Achava que ele era assim, mas não foi.
     Celular vibrou. Era ele.
     “PORQUE SUMIU? TE FIZ ALGO? GOSTO DE VOCE”
Ela respondeu;
     “Você é legal, mas estamos em vibes diferentes”. Pauzinhos azuis sem resposta.
     Deu uma tragada no cigarro. Prendeu. Soltou. “Deus me livre do amor. Amor me da ranço.”

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

18/08/2017

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Hoje faz 24 meses.
A vida é estranhamente estranha.
Eu escrevi e apaguei várias ideias aqui pensando num texto legal pra dizer como esse muleke com cara de velho é especial. Desisti de todas.
Se você já encontrou esse ser, com certeza recebeu um sorriso seguido de um "Oi" simpático e amigo. Talvez ele tenha estendido os braços pra te abraçar sem te conhecer e um provável polegar levantado sinalizou um joinha expressivo.
Ele não é o mais adiantado da sua idade, não fala muito bem e tá longe de ser um prodígio. Mas eu já vi um corredor inteiro de um hospital pedir seus "tchaus" enquanto ele ia de um a um com seu sorriso faceiro alegrar algumas almas doentes. Já fez um elevador lotado de gente rir com suas gracinhas enquanto alguns de nós nem "bom dia" conseguimos dar.
Ele não é especial. Nem pior nem melhor.
Mas tem algo que sempre vejo nesse olhar remelento. Vejo a Felicidade. A pura e simples Felicidade. A real Felicidade. A crença que todos são bons e tudo vai ficar bem. Que tudo se resolve com um "Oi" e um abraço. Que é possível ter paz em um mundo de trevas.

E eu, mergulhado em minha completa infelicidade, encontrei luz onde jamais imaginei. Em umas fraldas sujas e num par de olhos sorridentes.

terça-feira, 15 de agosto de 2017

Saudade

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A Saudade só existe na lembrança.
Não se sente falta daquilo que não se lembra. Se acaso venha eu tentar definir Saudade, seria “sentimento desgraçado que aprisiona sentimentos passados”. Explico.
É de conhecimento comum que entes queridos fazem falta. Um pai falecido fica pra sempre na lembrança de seus filhos ou esposa. Caso tenha sido execrável, apenas lembrança, caso contrário, Saudade. Lembra-se dos sorrisos, beijos, afagos, piadas e até dos improváveis defeitos como os arrotos a mesa ou os roncos na madrugada. Um amontoado de sentimentos se resumem quando a lembrança chega e desperta uma tristeza, a maldita Saudade. Aquela vontade de se querer ter o objeto amado, de desejar-se verdadeiramente, mas ser impossibilitado de tê-lo. A isso chamamos Saudade. Alguns dirão; “mas também se sente saudade de coisas vivas e distantes”. A esses digo: Concordo! Outro motivo pela qual esse maldito sentimento deve ser jogado nas profundezas do oceano.
Qual a função de se querer aquilo que não se pode ter? Seja vivo ou morto, perto ou longe, desejar e não possuir é em outras palavras estar preso aos pés e mãos a uma rocha com grilhões pesados e na outra ponta da sala, observar um prato delicioso acompanhado de uma maravilhosa bebida para saciar a fome e sede de seu pobre prisioneiro.
Diga-me que é bom sentir Saudade e lhe direi que tu é mais sádico que eu. Reflita; ao lembrar de bons momentos passados, as ideias vão se misturando numa mixórdia de sentimentos que não voltarão mais. Não existe saudade sem dor. Sempre que refletir sobre o passado maravilhoso de algo ou alguém, sua pobre alma ira refletir de volta uma tristeza e uma dor singela. Curta, doce e digo até prazerosa, porém ainda será dor.
E de todos os defeitos, esta maldita carrega uma característica que nenhum outro sentimento possui; Imortalidade. Não importa o que se faça, se um dia a Saudade nascer, essa jamais morrerá. Um vírus que se alimenta de passado e alegrias. Agarrada aos pés da lembrança, ela aguarda seu hospedeiro fielmente ser aclamado e ressurge em todo seu esplendor para brilhar com toda sua escuridão.
Digo por fim, que maldigo esse pérfido sentimento apenas por um motivo; Se há uma habitante em minha alma que se deita e desperta comigo diariamente e que o conheço bem, essa é a infame e deliciosa Saudade.

Realidade


segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Tudo bem?

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     Entrei no elevador e saudei com educação o desconhecido que já ocupava o espaço.
     - Bom dia. Tudo bem?
     - Não, não esta.
     - Como? – esse tipo de resposta não é comum.
     - Você perguntou se estou bem. Não, não estou. Ou essa só foi mais uma pergunta ridícula para tentar ser educado?
     - Não. Digo, sim. É que... – ele continuava tranquilo com sua meia idade olhando os números mudarem acima da porta.
     - Não se preocupe. Uma pergunta, duas intenções. Respondendo de acordo com a primeira intenção, a de ser educado; Sim, tudo bem. Obrigado. Respondendo a segunda intenção, a de realmente querer saber como um desconhecido esta a passar a vida e se tudo esta tranquilo; Não, a vida é um inferno, o diabo tirou férias e os demônios estão sem saber quais os turnos para me tirar a paz e por consequência, me perturbam constantemente para garantir o serviço. Estou em meia idade e ninguém me avisou que ser adulto se baseava em pagar boletos e garantir que se tenha uma morte aparentemente tranquila com dinheiro suficiente para poder se pagar um buraco no cemitério. Quando mais novo tive um grande amor que nunca esqueci. Hoje ela esta casada com outro e não há um dia se quer que isso não me aflija. A noite, minha mente se acende como um farol me privando de um bom e velho sono, garantindo assim minha incapacidade de realizar tarefas diurnas fazendo com que eu perdesse meu emprego por ser incapaz de entregar relatórios. O emprego era uma bosta, mas agora não sei de onde vou tirar dinheiro para pagar o buraco de minha morte. Minha única companhia era um cão que faleceu faz três dias de tão velho que era e tive que joga-lo na lixeira porque não existe um terreno baldio nessa maldita cidade onde eu pudesse enterrá-lo. Quinze anos de amizade e no fim o joguei na lixeira. – o elevador parou – Esse é meu andar. Tomara que o lixeiro passe quando eu morrer. Bom dia.
     Saiu dando espaço para uma senhora entrar.
     - Bom dia. Tudo bem? – me perguntou.
     Fingi que não ouvi.

Um simples pedido...

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    Não quero que meu filho seja gay.
    Muito menos travesti, viado, simpatizante, bi, homossexual ou sei lá o que. Morreria de vergonha.
    Sofreria muito mais se ele fosse feminista, machista, homofóbico, comunista, capitalista, coxinha ou um petista ridículo.
    Teria asco se me dissesse que se filiou ao PMDB, PTdoB, PT, PCdoB e que agora é fã do bolsomito ou que quer mais um esquerda para presidente.
    E o pior, se virasse católico apostólico romano, budista, evangélico, ateu, mulçumano, hindu, espírita ou Deus me livre, macumbeiro.
    Peço ao Universo para que meu filho nunca precise se categorizar para se encaixar aos ideais montados para discutir quem é melhor ou pior que quem. Que não precise de classificação para defender uma ideologia e que apenas siga aquilo que é bom para si e para o mundo.  Que em vez dele tomar partido, ele una as partes. Que ele entenda que definir as pessoas por classe, etnia ou opção sexual é uma atitude irracional e desprezível. Que ele aprenda que ser humano é apenas ser e que diferentes também são iguais.
    Quando Móises perguntou qual o nome de Deus, ele apenas respondeu “Eu Sou”. Vamos aprender com o Criador do universo, chega de parvas classificações. Vamos apenas Ser, ser Humanos. 

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Bilhete - #2UmCisco



     Tudo tinha voltado ao normal e ele agradeceu ao universo por isso.
     Era seu primeiro encontro após aquilo que ele chamava de “A grande Decepção”. Sentado na mesa com sua nova companhia que havia conhecido tinha alguns dias, até que enfim a paz reinava e a vida estava andando.
     Foi difícil, mas após meses de sofrimento ele conseguiu apagar ela de sua casa. O amor tinha ido embora, mas tinha deixado rastros por todos os lados. O travesseiro e fronha que ela havia trago foi o primeiro a pegar fogo.  Cada cômodo da casa guardava uma lembrança dela e ele não podia conviver com aquilo. Jogou tudo fora.  A garrafa de vidro para por água que ela havia improvisado, o narguilé, os cigarros e um maldito pano que ela usava frequentemente na cozinha. Livrou-se do shampoo ainda cheio que ela tinha comprado e até uma toalha azul que nem era dela, mas usava. Jogou fora as fotos, uma calcinha, as cartas e se pudesse jogar fora as blusas que ela usava de camisola, jogaria, mas elas eram boas demais. Da pra aguentar. Não havia mais vestígios daquele “espírito” que o assolou durante tanto tempo.
     Pediu a conta e tirou a carteira para pegar o cartão e finalizar aquele maravilhoso encontro. Sem querer um pedaço de papel dobrado caiu ao tirar o cartão. Pegou e abriu meio confuso. Arregalou os olhos sem conseguir esconder a surpresa. Era um bilhete antigo que não tinha ido junto com as outras tralhas. Ele tinha jogado tudo fora, mas ela ainda estava em todos os lugares.
     - Você acredita em demônios? – perguntou pra sua companhia na mesa – Porque eu começo a crer que o diabo existe e adora me pertubar.


terça-feira, 18 de julho de 2017

Uma Musicista de Merda - #1UmCisco

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“- A essência da música se baseia basicamente em Pausa e Som - um amigo havia lhe dito uma vez a muito tempo – assim como na vida. O problema é que a gente sempre faz barulho na Pausa ou cala a boca na hora do Som. Isso fode com tudo.”
 Era festa na cidade, onde era certeza que ia encontrar ele. Virou seu copo de cerveja, escondida atrás de uma árvore, pois já tinha visto ele de longe e aquela maldita falta de ar e coração acelerado atacaram novamente. “Agora vai”, pensou.
Desde seus onze anos o frio na barriga, o coração batendo forte e as mãos suando eram pandemônios dentro dela quando ele chegava. E nada havia mudado.
Aos treze a desgraça do frio na barriga, o coração palpitando doido e as mãos encharcadas acompanharam o primeiro beijo, sem língua é claro, quem sabia beijar aos treze? Começaram a namorar, era eterno. Ai acabou.
O Tempo confabulava contra eles desde então. A distância era grande e os encontros muito ocasionais. Ela solteira, ele namorando. Ela namorando, ele solteiro. Vez ou outra olhares se esbarravam em festas. Namoraram na faculdade. Terminaram. Se viram alguns anos depois. As mãos suaram juntas com a dele várias vezes. E lá se vai novamente. Mas não importava, sabiam que um dia iam ficar juntos. Era o destino. – “Eu não vou fuder com tudo” – pensou ela criando coragem pra sair de seu abrigo improvisado – “dessa vez...”
- Oi – disse ele aparecendo de uma vez fazendo ela derramar um pouco da cerveja – preciso falar com você.
- Claro, só deixa eu pegar meu coração que saiu pela boca – brincou desajeitada – eu já ia lá falar com você. É que...
- Vou ser pai. E vou casar – soltou como se fosse mais fácil matar do que torturar.
Sem reação. O coração dela batia a mil, o frio na barriga era glacial e a mão pingava sem ela saber se era o copo de cerveja ou aquele maldito sentimento que já durava quatorze anos. Tudo acabara. Os sonhos, os planos, projetos, carinhos e afetos. Ela sabia ali que não tinha mais como. A cidade ficou silenciosa e o tempo que sempre foi carrasco dos dois se esticou. O mundo tinha parado, deu pra sentir. Ninguém mais caminhava, não havia crianças correndo nem banda tocando ao fundo. O universo entendeu aquele milésimo de segundo como se soubesse ou sentisse a gravidade de sua dor oculta. Aquilo era um “dedinho do pé na quina”. Tinha sido amor, sempre foi. Ia ser por anos. Eles nasceram um para o outro. Mas infelizmente, não seria naquela vida.
- Eei – disse ele passando a mão na frente dos olhos dela – ta ai? Ia me falar algo?
“Sim, ia”.
- Sabia que a música é feita basicamente de Pausa e Som? – deu um gole seco na cerveja – Tipo na vida. E isso é foda, porque eu nunca tive nenhum talento pra música.

Eu saí com uma Ex

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Depois de quase dez anos a encontrei em uma rede social. Conversamos um pouco e decidimos nos encontrar. Uma sorveteria foi o local escolhido, eu sugeri um almoço, mas “conversar mastigando é ruim demais” segundo ela.
Nosso relacionamento durou quase dois anos e deixo ao seu critério descobrir os motivos do término. O tempo que ficamos juntos foi ótimo. Morena dos lábios finos e uma voz suave, na época era uma princesa pedindo cuidados. Já havia visto todas as suas fotos na internet e ela ainda estava linda, o tempo até ajudou um pouco. No caminho para o encontro, me subiu um nervosismo infantil. A ideia de reencontrar alguém que já fez parte da sua vida faz pensamentos ridículos passarem pela nossa mente. Talvez fosse como nos filmes; anos sem se ver e no primeiro olhar o coração queima com uma paixão adormecida e uma nova história se inicia. Confesse, você também pensaria isso.
Cheguei primeiro e fiquei sentado mexendo no celular.
- Oi?!
Levantei a cabeça e disfarcei a surpresa. Estava maravilhosa. Um corpo magro muito bem desenhado, cabelos pretos longos, um perfume doce que eu me lembrava bem e um rosto pouco maquiado com um batom vermelho destacando as ondas de sua boca.
Pedi o sorvete e começamos a conversar. De inicio foi meio constrangedor mas as risadas foram dando espaço a liberdade. Falei sobre os rumos que minha vida tinha tomado até ali e perguntei como ela estava. Secretária, estudando pra concurso e formada em direito. Ainda morava na mesma cidade que nos conhecemos, com sua mãe e padrasto. Falamos do nosso tempo juntos como se fossem outras pessoas. Assuntos delicados eram acompanhados por uma mão no rosto e um “ai meu Deus, que vergonha” ou um “como eu era infantil” e uma risada ridícula no final. Foram quase duas horas de “você ainda continua ridiculamente hilário” e “esse mundo gira mesmo”.
Levei-a até o seu carro, abri a porta e dei um abraço de despedida. Ela entrou e se foi. Não houve beijo, nem olhar magnético. Pássaros não cantaram ou um toque de mãos sem querer ocorreu. Ao contrário do que pensei, não fiquei com borboletas na barriga nem com o peito ardente. Os dois já estavam cansados de relacionamentos rasos e não precisávamos mostrar mais nada um pro outro.
Não acredito que nos veremos novamente, mas o reencontro com o passado revela muito sobre o porquê somos quem somos. Éramos perfeitos um pro outro e graças a Deus a vida nos separou, para sermos perfeitos para nós mesmos.
Quando ela virou a esquina balbuciei;
- Terminar, tambem é um final feliz. Triste, mas feliz.


segunda-feira, 17 de julho de 2017

Um Hippie Covarde

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- Queria ter essa coragem – já estava a algum tempo conversando com um desses hippies que ficam vendendo pulseiras na rodoviária e a conversa se desenvolveu para além do produto de venda – largar tudo e viver de boa.
- Largar tudo? – ele me perguntou simpático ainda trançando um cordão.
- É. Minha vida uai.
Ele havia acabado de me falar sobre sua vida até ali. Morava em uma casa de fundos numa cidade próxima e tirava todo seu sustento do seu artesanato. “Eterno amante”, como ele mesmo definiu, de outra moça que também compartilhava de seus gostos, os dois viviam bem. Viajou boa parte do país para vender suas pulseiras e não precisava se preocupar com a rotina frenética do mundo capitalista. Pretendia até o fim do ano ter um filho e completar uma família.
- “Tudo” – ele deu um sorriso maroto – mano, você estudou a vida toda até conseguir um emprego que lhe fornecesse um dinheiro relativamente bom para comprar coisas relativamente boas para te dar uma vida relativamente tranquila. Pega trânsito todos os dias, se esgueira entre uma conta e outra para não deixar seu nome sujo pra não atrapalhar a próxima compra dos sonhos e provavelmente trabalha em algum serviço que lhe fornece um nível de estresse interessante. Não preciso te conhecer para falar isso, enquanto eu falo, metade das pessoas que caminham entre a gente estão fazendo exatamente a mesma coisa. Trabalhando, trabalhando, trabalhando. Formigas desesperadas para alimentar sua rainha, seja lá quem ela for. Estabeleceram metas para dar sentido a rotina absurdamente estranha que estão levando. Se formar, casar, ficar rico, luxo, ser feliz, se vestir bem, dar orgulho para família, etc. Todos com a mesma ideia; chegar ao final da vida e ter tranquilidade. – riu – Deuses do tempo. Completamente certos que viverão para sempre e que a Vida ira respeitar seus desejos lhe dando tempo para realizar todos os seus sonhos. Amigo, eu que queria ter essa coragem de largar tudo e viver como vocês, mas sou um completo covarde.

Casou, e se fudeu



O comportamento humano sempre foi muito previsível em várias partes. As fases de um relacionamento são praticamente iguais em todos os casos, tirando alguns detalhes. Nos apaixonamos, não vivemos sem, enjoamos, largamos, queremos de volta e agora mais maduros tentamos desfazer os males do passado. Às vezes a pessoa tem tudo que sempre pedimos e em outras tudo que sempre odiamos. Transamos no quintal ou enquanto se faz o almoço. Um sempre já foi romântico, atencioso, agora nem isso mais. As coisas mudam.
Já me disseram; “Casamento é uma vida”. Isso faz um certo sentido. Afinal, quem de nós não quer dar cabo da vida vez ou outra, e em vários casos até conseguimos? Todos passamos por dias áridos, tristes, mas também por dias apaixonantes como se o céu estivesse mais brilhante. Às vezes estamos dispostos bendizendo as plantas do quintal e em outros, abrir o olho ao acordar é um sacrifício. Casamento é vida mesmo. Esquecemos aquele defeito do nosso parceiro como quem se acostuma com uma mancha na parede ao ponto de nem mais vê-la. Achamos que o romantismo se esfriou, quando na verdade ele esta lá, assim como as noites estreladas que faz tempo que você não para pra apreciar, a culpa não é do céu, basta levantar a cabeça. Casar não é de tudo ruim, assim como também a vida não é.
A responsabilidade não é da vida, ou do casamento, nós que exigimos absurdamente que os dias sejam gloriosos, o que é de uma estranheza tremenda. Afinal, se você não se surpreende mais com o oxigênio ao seu redor que “apenas” te mantém vivo, o que mais é espetacular?
Certo filósofo disse; “Nascer, é começar a morrer”, eu digo; “Casar, é começar a se fuder, mas fuder a dois é sempre mais gostoso”.

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Últimos Segundos

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A morte me parece muito mais doce neste momento. Lhe explico.
Estou com o cano de uma pistola dentro da minha boca e o com meu polegar no gatilho. Tomei alguns remédios, mas tudo que me deram foi uma tremenda dor de estômago. Malditos suicidas que não deixam essas partes claras pra gente que vai logo depois deles. Enfim, consegui essa arma com um colega e até então só a tinha para futuros assaltos em minha residência, que digo de passagem não tem nada de valor, então não sei bem porque peguei esta maldita ferramenta de matar, talvez já premeditasse inconscientemente meu fim.  
Nunca pensei que fosse ser um suicida, muito menos que aceitaria a ideia tão tranquilamente. Passei pelas fases comuns de todos eles e cheguei ao estagio final, a falta de vontade de viver. Como todos eles, também  tenho um motivo consideravelmente idiota para por cabo da minha vida e isso me dificulta nesse momento, pois não quero ser lembrado como um idiota. Não deixei recado nem liguei para ninguém, talvez deem minha falta daqui uns dias, quando meu celular parar de receber as ligações e alguém pensar em algo pior, o que também é difícil, pois nunca deixei pistas da minha atual situação.
“Então porque esta dizendo tudo isso?” você deve estar se perguntado. Me faço a mesma pergunta. Não existe um discurso especifico para o que vou fazer. Não há nada de heroico ou certo e meus motivos não são melhores do que os dos milhões de outros que tomaram o mesmo rumo que o meu. Não existe razão, amor, motivo, família, decepção ou qualquer outra coisa que justifique tamanha atitude. Talvez a falta de motivo seja um dos motivos, o que também não seria nada inédito, pois creio que a maioria se vai com as mesmas ladainhas.
O que espero com tal atitude? Esquecimento. O total e belo esquecimento. Aquele esquecimento que trás algumas lembranças na mente das pessoas; “ele era tão bom” ou algo como “nunca vou esquecer de suas piadas”. Talvez não tenha esse retorno, mas seria interessante se fosse o caso. A vida tem sido um pandemônio sem fim, aboleto-me a ideia de que só é possível suportar as dores da alma de uma vida “viva”, negando total realidade assertiva dos males do mundo, e isso meu caro, é de ampla dificuldade para minha pessoa. Meu fim não é melhor nem pior do que o de qualquer outro, é apenas um fim. Um bocado de carne que vai parar de trabalhar incansavelmente para se manter respirando e com saúde.
Enfim, tu que me ouves, de tudo que tenho pra dizer quando se chega ao fim da vida é; não, toda sua vida não passa na sua frente. O que é um tanto decepcionante já que queria relembrar alguns momentos bons para que eu pudesse repensar minha atitude. No demais, não há nada de mágico ou causa maior. É simplesmente o fim como deve ser. Vou agora, na esperança que sirvam pelo menos Pães de Queijo em meu velório.
Celular vibra do meu lado; “Open Bar hoje, borá?!”
Droga, mortos não bebem. Largo a arma na cama, pego a jaqueta e o celular; “To chegando. Hoje eu quero beber até morrer”.

segunda-feira, 10 de julho de 2017

Apenas uma Aventura

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Ele falava empolgado com a boca ainda cheia de comida, o restaurante estava cheio e o barulho era alto, mas não era incômodo.
Já estavam saindo há algum tempo e ela já estava começando a gostar dele. Era simpático, engraçado, os amigos o adoravam e tinha uma maturidade infantil que ela sempre gostou de ver nas pessoas. Ele falava algo sobre o trabalho, ela não estava dando atenção, apenas acenava com a cabeça fingindo que o ouvia e vez ou outra um sorriso esboçava pra participar do devaneio. Na sua mente um único pensamento a assolava; quando ele vai embora e me deixar aqui?
Seus relacionamentos anteriores haviam deixado algumas lembranças ruins em sua mente e ela sentia que este também seria igual. Não dava pra saber.
Enquanto ele cortava um pedaço de filé ela se lembrava de seu ultimo algoz. “Será que o problema sou eu?” pensava. O primeiro foi ainda quando ela era jovem, namorados e inocentes ate que ele chegou um dia dizendo que havia ficado com um ex e que gostava dele. Passou, eram novos. O outro foi um de longo tempo, até que o mundo caiu quando no celular dele estava escrito que ele estava com ela para esquecer o cara da faculdade. Um dos mais recentes talvez foram os mais cruéis. “Uma aventura”, foi como ela foi definida. “Porra, eu amava ele”. Ela simplesmente parou de procurar e de esperar depois desses desafetos. Aceitou que sua existência era apenas passageira para os que ela considerava eternos. Seus beijos e carinhos nunca prenderiam ninguém e não adiantava se acabar na dor, pois no final nada ia mudar e de nada adiantava. A solidão a perseguiu a vida toda e não era agora que a largaria. Aceitou seu carma e seguia em frente.
- Melhor pararmos por aqui – interrompeu seu parceiro.
- Mas eu não terminei a carne, ela esta magnf...
- Estou falando de nós dois – ele engasgou e olhou espantado – você é um cara legal, mas acredite, não sou boa companhia.
Levantou e saiu.

terça-feira, 4 de julho de 2017

Charles Sophie, esse era seu nome...

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    O observava encostado na porta meio duvidoso sobre nossa conversa até ali.
    - Eu lhe disse várias vezes e por dias incansáveis expus a realidade de nossas vidas. Não foi por falta de aviso nem de companhia que seu fim chegou – falava como se estivesse só – não te culpo. Eu não me ouviria. Confesso que sua visita me causou assombro.
    - Não entendi.
    - Por anos tenho tentado me acomodar na vida que levamos, e com relutância tu negas meus conselhos. Então como se nada tivesse acontecido, vem me pedir auxilio e abrigo. Me questiono  como vão as coisas lá fora – entrou deixando a porta aberta e foi em direção ao seu velho bule de chá – e se verdadeiramente é isso de que precisa - sua paciência e tranquilidade já estavam me incomodando, não era de seu costume – lembro-me de nosso último encontro. Você me deixou aos berros como um louco. Chegou abatido e saiu como um vitorioso com um olhar de que existia alguém em pior estado que tu. Por anos confabulei uma situação – puxou uma cadeira e sentou-se provando seu chá – e se eu tivesse saído por aquela porta? Isso me torturou por dias e dias. A angústia do esquecimento já tomava conta de mim. Porém, um dos piores venenos e remédios para qualquer ser no universo chegou e se revelou, o Tempo. Ele me fez companhia firme e dura incansavelmente e depois de tudo que me fez, tu aparece com esse olhar esperançoso pedindo minha humilde, e negada por anos, contribuição. – deitou sua xícara na mesa e me olhou com uma paz de ódio – pois eu te digo uma coisa seu verme; mesmo que me negues, me assombres, me abandone e me esqueça nesta casa pútrida, eu jamais me calarei, jamais te deixarei em paz, jamais te cegarei para a realidade – deu um tapa violento na xícara e se levantou a me encarar com ira – e sabes por que? Porque tu, tem mais de mim, do que de si mesmo.
    Charles, esse era seu nome. Dor, esse era seu legado. Infelizmente nossas conversas nunca terminavam amigavelmente, porém, desta vez saí e deixei a porta aberta. Espero que o sol lhe apeteça.

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Solipsista...


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Passou a mão no rosto num gesto exausto. O dia no escritório tinha sido cansativo e sua alma pedia descanso. Não entendia como tudo havia chegado aquele ponto. Suas entranhas sussurravam liberdade. Deu um gole no café que já estava frio e pensou porque aquele líquido gelado ainda estava lá, devia desaparecer. Puff. Sumiu. Levou um susto quase caindo da cadeira. Seu desejo havia sido atendido. Se recompôs ainda sem acreditar muito e testou. Lá se vai a caneta na sua frente. Não acreditou no que viu, tudo que desejava que desaparecesse, sumia. Estava só, dava pra brincar. Em cinco minutos não haviam mesas nem cadeiras, computadores ou copos. Tudo havia ido graças ao poder de seu pensamento. Um escritório vazio. Sua mente se encheu de euforia, ele tinha o poder. Aumentou então seus testes. Em alguns segundos estava em um lote vazio apenas com o piso em cerâmica, olhando para a rua como se nunca nada estivesse construído ali. Pulou jogando os braços para o alto. Seu sorriso era descontrolado. Queria testar mais, mas pra isso precisava de silencio, então... Apenas o som da sua respiração pairava no universo. Puxou o ar com prazer, seu coração se enchia de tranquilidade. Estralou os dedos, preparou os pulsos, contorceu o pescoço e se perguntou qual a necessidade daquela cidade. Puff. Um deserto total o cercava, nada até a linha do horizonte o incomodava. Não havia som, pessoas, prédios e casas. Tudo estava em qualquer lugar menos ali. Ele correu feliz pelo vazio, comemorando seu grande feito. Se jogou no chão cansado e satisfeito. Estava bem, estava em paz. Porém pensou, se já tinha chegado ate ali, porque não ver o que seria possível fazer? Levantou, e pensou nas bilhões de galáxias e estrelas e se perguntou qual o sentido de um planeta tão pequeno e indefeso como o nosso. Pronto, lá estava ele pairando no infinito sem fim do universo. Nada ao seu redor alem de brilhos de estrelas e a escuridão do espaço. Não pôde segurar a gargalhada. Era um deus e tudo estava em suas mãos. Ainda sim não estava satisfeito. Chegou onde ninguém na eternidade havia chegado e não pararia por ali. Girou os olhos nos brilhos longínquos das estrelas, no astro rei Sol e nos planetas anos luz a frente e os aniquilou da existência. Vácuo. Escuridão. Do contrário do que esperava, a solidão não lhe trouxe a empolgação inicial. O breu o incomodou e desejou que desaparecesse. Assim se fez. Puff. Piscou e se viu numa sala branca com algumas centenas de pessoas no vazio a vagar sem rumo. Interpelou um dos transeuntes;
- Onde estou?
- Seja bem vindo ao Abandono – respondeu o cidadão já partindo – somos como você, destruímos um universo inteiro na esperança de felicidade e o que nos restou foi a solidão.

terça-feira, 20 de junho de 2017

EU MORRI AOS 27



    Ainda posso sentir o sangue quente saindo da minha boca e escorrendo pelo chão. Não sei direito o que me atingiu, mas estou morrendo em plena luz do dia caído no asfalto. Eu sempre soube que iria morrer aos vinte e sete.
    O Tempo é algo cruel. Em um ano as coisas podem acontecer de uma maneira inimaginável. Nunca entendi direito as festas de aniversário, comemorar a data que te leva cada vez mais pra perto da morte me causa achaque. Ou talvez seja porque sobrevivemos mais um ano sem dar adeus a esse mundo tão estranho.
    Provavelmente tenho pouco tempo para dizer algo, posso sentir as pessoas ao redor já premeditando meu fim e alguns passos desesperados. Nada incomum.
    Desde muito tempo sempre achei que morreria aos vinte sete. Nada poético, apenas tinha essa convicção estranha. Imaginava que pegaria meu filho no colo, teria uma família, amigos e morreria bem quisto por todos. Um legítimo herói. Sair de cena enquanto ainda estava-se no ápice de meu esplendor. Acreditando fielmente nessa realidade reconfigurei minhas ideias e ideais para que nada ficasse para trás. Agradecimentos póstumos são sempre tão ridículos, bendizer alguém que nunca mais vai te ouvir não faz muito sentido.
    Especialmente no último ano tenho morrido pouco a pouco e sentido que a Vida tem me ajudado a sofrer tal penitência. Descobri o verdadeiro significado de algumas palavras e emoções. Família e amigos tiveram uma nova aparência diante de minha face e estranhamente pude sentir uma Parcela do que é Amor. Os Acasos. Você que lê esse estranho epitáfio, lhe agradeço. As vidas se vão mas as ideias sempre permanecem. E se há algo que possa deixar para sua avalia é que o Tempo é pai de todos os deuses. As coisas nunca permanecem como são e o mundo gira cada vez mais veloz. As pessoas se transmutam e aqueles que eram, estranhamente se desfazem. 
    De todos os sofrimentos, o mais profundo foi descobrir que infelizmente, não sou deus. Tal descoberta estava no fundo de um copo amargo preso por anos até ser liberto. A crueldade da verdade é assombrosa. Enxerga-se olho no olho e apenas ver uma imagem embaçada de algo desconjunto e sem nexo. Se despir de orgulho, dor, apego, das certezas e convicções que até hoje eram o Ser que lhe fez Ser. Não há morte mais dolorida.

    Para dar adeus a tu que me ouve, lhe peço apenas respeito para com o Tempo e para com aqueles que um dia estiveram no seu mundo, sendo bom ou ruim. Todas as coisas tem sua causa e motivo que nos fazem quem somos. O homem que não respeita sua historia, tende a repeti-la. Segue teu caminho feliz na infelicidade e aproveita teus curtos e inúteis dias enquanto ainda os tem, pois a mim, foram dados apenas vinte e sete anos.

terça-feira, 11 de abril de 2017

Suicida

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Abriu os olhos um pouco sem vontade, checou o celular; “to de bad, preciso dos seus conselhos”. Vez ou outra ela recebia esses “bons dias” de algumas amigas. Levantou, escovou os dentes, se arrumou e saiu pra sua rotina diária. No caminho ate o ponto de ônibus cumprimentou o vizinho e o mesmo devolveu um sorriso meio amargo. Alguns indivíduos não são muito bem humorados de manhã. Na espera pelo ônibus, as pessoas ao redor pareciam ter sido despertadas de um filme zumbi. Ônibus lotado. Teve que ir em pé como já estava acostumada. Era triste ter a visão de todos ali. Alguns repousavam suas cabeças na janela com a mente vaga e o olhar perdido. Uma moça não gostava do que lia no celular fazendo-a guardar o aparelho decepcionada e limpar as lagrimas que ainda começavam a sair. Que dor poderia ser tão forte logo cedo? No trabalho mal sentara na cadeira e sua colega ao lado lhe dava as boas vindas; “Odeio esse lugar, vou me jogar daqui de cima”. Abriu a rede social antes do batente e foi descendo a página de posts. Entre fotos e eventos, as frases de autoajuda e desabafos depressivos eram o que mais se lia. Porque o mundo esta tão infeliz? – se perguntou.
“Cadê você?”, sua amiga ainda esperava resposta.
Na volta pra casa observou a irritabilidade do porteiro, a fome do mendigo, a reclamação de seus companheiros, a raiva do motorista, a pressa do jovem, o desamor dos namorados, as lágrimas ocultas dos pedestres e o noticiário de guerra na televisão da padaria. Todos ocupados demais em seus sofrimentos. O mundo parecia se afundar no desespero total e parecia que não existia remédio contra tudo aquilo.
Chegou, largou a bolsa no sofá, tirou seu casaco, descalçou os sapatos e se jogou na cama. Um choro meio sem querer chegou. Alguns minutos depois levantou e foi em direção ao armário da cozinha. Celular vibrou; “Se você não me ajudar vou morrer amigaaa”. Na porta pequena do tinham alguns remédios. Pegou uns quatro comprimidos de cada caixa, até dos com a tarja preta sem saber suas funções e com um copo de água engoliu dois a dois.
Pegou o celular e respondeu; “desculpa, dia corrido. Pode dizer”. Suas vistas escureceram e caiu ali mesmo no chão da cozinha. Boca espumando e convulsiva. Celular vibrou;
- “Graças a Deus amiga, onde você tava? To desesperada precisando da sua ajuda. Você acha que sou igual você, que consegue ficar de bem com tudo e com todos?” – não houve resposta.


Café

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- Não sei como você aguenta tomar café sem açúcar – como de costume eu e meu amigo tomávamos café na mesma padaria todas as manhãs.
- É questão de adaptação – tomou seu gole.
- E porque eu me adaptaria com algo amargo?
- No começo é ruim mesmo, mas depois que o doce sai o café de verdade fica.
- Café de verdade? – tive que rir – Mano, é só café.
- Sabe qual o problema do doce? – perguntou com seu jeito tranquilo de sempre – Ele é doce, é bom e da uma coisa boa, um sentimento de satisfação. Ele maquia a realidade e nos da o que queremos. Algumas marcas de café dão um amargo no final, outras são bem suaves e mais algumas são simplesmente indiferentes. Você nunca saberá discernir uma de outra, porque o açúcar é aquele amigo falso que finge que gosta de você, mas na verdade não tem coragem de te mostrar a realidade.
- Esta falando que tenho medo da realidade?
- Estou falando de café. Interprete como quiser. O amargo sempre vai ser mais intenso que o doce. Você nunca vai ver alguém traumatizado porque foi muito amado e hoje precisa de ajuda psicológica pois sempre teve todo amor do mundo. A dor abre seus olhos e revela o que é bom de verdade do que é apenas ilusão. O problema é que o prazo de adaptação pra aceitar o amargo das coisas é péssimo e longo, poucas pessoas estão dispostas a goles de café tão amargos em manhãs tão brilhantes e preferem doses doces pois são mais confortáveis – tomou o resto do café e colocou a xícara na mesa – vamos, já estamos atrasados.
- Vamos sim, só uma ultima pergunta – levantamos e saindo paramos na porta da padaria – você esta lembrando que trabalha em uma fábrica de açúcar certo?! – meu sarcasmo era claro.
- Evidente que sim.
- E não gosta de açúcar no café?
- Meu amigo, do açúcar eu já provei todo seu amargor – ajeitou sua jaqueta e virou-se indo embora ainda falando – você que nunca provou o doce da amargura.

quarta-feira, 5 de abril de 2017

A 9ª Carta

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Acabou. Ele estava preso já fazia algum tempo e os favores que o guarda realizava findavam naquele dia. Seu ultimo pedido foi um papel e uma caneta.
            Durante sua estadia naquela cela escura e úmida, ele já havia enviado oito cartas para seu amor que, talvez, o esperava lá fora. Duvidava muito disso. Já sentia o sentimento de fim, da solidão eterna e que seu lamento jamais seria ouvido.
Sentou em sua cama de ferro barulhento com parafusos faltando e ficou olhando para aquele papel em branco, pensando no que mais poderia dizer. Silencio apenas isso pairava em sua mente. Não havia mais explicações, ele sabia que qualquer coisa que colocasse ali não valeria de nada. Ele a amava mas a falta de noticias sobre suas cartas anteriores o fizeram perceber que ela já não estava mais lá. Era o fim, sua caminhada terminava ali.
Dobrou o papel em quatro partes, levantou-se e chamou o guarda da janela da porta com um pouco mais que dez centímetros;
- Chefe!
- Diga vinte e nove – seu numero de cela.
- Tome. Muito obrigado pelo favor – e passou o papel pela janela.
- Mesmo destinatário?
- Qual foi minha sentença meso Chefe? – perguntou se distanciando da porta e indo em direção a janela gradeada e pequena de onde podia se ver uma lua crescente.
- Perpétua vinte e nove. Porque pergunta se já sabe a resposta? – o guarda olhava curioso pela janelinha.
- Sou um homem morte Chefe, condenado aqui para sofrer em completa solidão. Homens mortos não escrevem cartas e nem recebem. Não existe destinatário, assim como não existe remetente.
- Se não quer que eu mande a carta, por que me devolveu? – já olhando para papel desconfiado.
- Sou um homem morto Chefe, fala com os mortos agora? – falava tranquilo olhando a lua.
O guarda balançou sua cabeça com desdém e saiu em direção da porta de saída no fim do corredor. No meio do caminho da meia volta um pouco indignado lembrando que a caneta ainda estava na cela.
- Vinte e nove, esqueceu a caneta – não teve resposta.
Se aproximou e olhou rápido pela janela já nervoso pronto para alterar a voz quando o susto tomou seu corpo. Meteu a mão no bolso rápido e desesperado gritando para os outros guardas correrem para dar suporte enquanto abria a porta e entrava num salto.
Lá estava o presidiário, estirado no chão em meio ao sangue escarlate brilhante que ainda escorria de seu peito e uma caneta fincada na altura do seu coração. Seus olhos ainda estavam abertos e serenos como se quisesse ver a lua ate seu ultimo momento. O guarda congelado com a cena, confuso com tudo aquilo percebeu que o papel ainda estava em sua mão agora suada. Desfez as dobras devagar e leu seu epitáfio;
“Melhor seria morrer de amor
Do que fingir
A inexistência
Desta maldita dor.”

Livro - Capitulo 1

Olá,
     Provavelmente não me conhece, então irei me apresentar sem muitos rodeios, pois minha paciência é curta e meu tempo importante. Sou seu Livro. Por favor, não me diga que não entendeu, não tenho tempo para parvos limitados como você. Não leu errado, sou seu Livro sim. Aquele que você abre todos os dias para ler e aprender sobre algo ou descobrir como vai terminar certa historia. Sou o romance de cabeceira, o reflexo do filosofo, o pensamento do critico, sou o Livro que você leu algum tempo atrás. Sabe aquela ficção, drama, biografia, estudo ou sei lá que bulhufas lhe interessa? Então, prazer, Livro.
     Não irei me admirar se não estiver entendendo, pois no geral os seres humanos são ridiculamente idiotas e de mentes minúsculas, e você não deve sair do padrão. Desculpe minha indisciplina com as palavras, mas quando se lê tantas mentes acaba-se perdendo um pouco o tato “humano”, considerando que sou apenas um Livro. Explico-lhe;
     Contumazmente as pessoas tem acreditado que quando pegam seus livros tão preciosos para ler, estão apenas absorvendo informações e viajando em seus mundos medíocres de fantasia, infelizmente venho lhe dizer que todas as vezes que tu abriu uma pagina de seu livro, eu lia você. Sim, eu Livro aproveitava seu olhar focado e interessado em minhas palavras tão bem formatadas para entrar em sua mente e me interter um pouco. Grande parte possuía historias magníficas de vida, outras eram apenas mentes apavoradas e perdidas, sem controle de seu próprio destino. Não as culpo, seu mundo é um caos sem fim.
     Decidi contar o que li em cada um de vocês. Nos meus anos a fio confabulando e remexendo miolos de ideias, deparei-me com historias fantásticas de vida; amores, mortes, paixões, amizades, religião, família, sentido, felicidade e vários outros assuntos que me deixavam cada dia mais interessado no individuo que me folheava. Um universo de fabulas se esconde na mente, atrás de medos e traumas que nem seu próprio possuidor as conhece. Descobri segredos obscuros, amores magoados, sofrimento disfarçado, felicidades sem sentido, desespero oculto e milhares de falsas personas. Não espere minha neutralidade, não preciso e acredito que você já tenha muitos meios-termos em sua realidade e se tem um quoeficiente intelectual maior que um chimpanzé em coma, percebeu que não me dou bem com leitores de Autoajuda. Meu estoicismo os oprime.
     Daqui em diante me perdoe se eu lhe causar algum achaque, é de minha natureza e não se trata de nada pessoal, bem, talvez se trate, mas não importa. Leia com atenção, pois talvez eu já tenha lhe observado em alguma biblioteca, no sofá, sentado na escrivaninha ou deitado no fim da noite em sua cama. Talvez eu já tenha lido seus sonhos, seus abandonos e idiotices e por acaso sua historia esteja aqui. Mas não tema, nem tudo é desilusão e grosseria, sei reconhecer um bom amante e um ótimo personagem nesta peça teatral. Sei valorizar os atores e suas essências. Como Livro que sou, me importo com o sentimento de minhas palavras quando assim elas devam ser, então fique tranquilo. Tentarei ser claro de todas as maneiras possíveis, terás acesso a varias facetas de possibilidades, não me limitarei a contos ou longos textos, muito menos a frases prontas ou estudos científicos. Tudo que anseio é lhe apresentar o outro lado da capa, o espelho da pagina. Tudo que quero lhe apresentar, é Você.

Eterno...

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Hoje nós nos conhecemos e conversamos muito
Hoje já tínhamos mais intimidade e lhe dei aquele beijo inesquecível na bochecha
Hoje trocamos mensagens e marcamos de nos encontrar
Hoje demos uma volta na cidade e você me beijou com um beijo apaixonante
Hoje nós falamos da vida
Hoje aproveitamos
Hoje nos amamos
Hoje rimos ate chorar das pessoas ao redor
Hoje tomamos café, almoçamos, jantamos
Hoje você achou ruim alguma coisa e brigamos
Hoje você não fala comigo
Hoje fizemos as pazes e nos beijamos com beijos de saudade
Hoje saímos
Hoje rimos um pouco e você não estava disposta a sair
Hoje eu briguei e você chorou
Hoje indiferentes
Hoje eu pedi desculpas e nos acertamos
Hoje estamos completamente apaixonados
Hoje brigamos novamente e te senti desiludida
Hoje você chorou escondida
Hoje eu sofri calado
Hoje nós conversamos e decidimos parar por aqui
Hoje eu chorei sozinho no chuveiro, cama, cozinha
Hoje você me ligou
Hoje o telefone não tocou
Hoje o telefone não tocou novamente
Hoje eu estou sofrendo de saudade de você
Hoje eu bebi ate dormir caído no banheiro
Hoje meus amigos tomaram meu celular para não te ligar
Hoje estou um pouco melhor
Hoje já me alimentei direito e meus sonos não estão interrompidos
Hoje eu estava bem
Hoje fui caminhar no parque e te vi sentada com alguns amigos de longe e meu peito esquentou e doeu
Hoje eu chorei de saudade
Hoje não levantei da cama
Hoje estou melhor
Hoje estou bem
Hoje estou seguindo minha vida

Mas ainda te quero todos os dias.

sexta-feira, 24 de março de 2017

Leoa

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    Uma leoa enjaulada. Presa há anos dentro de tudo que já sofreu.
    Ela conversava com sua voz num to grave doce, chamando atenção de todos que passavam o olhar. Linda, maravilhosa, uma beleza sem igual. Seu corpo sensual valsava em cada passo que dava sempre que levantava. Seus cabelos loiros balançavam num tornado de atração. Seus lábios pouco finos falavam com graça aos homens que desesperadamente a desejavam tentando sutilmente sair de cada pedido de sexo casual e sem amor. Bela, doce.
    Como uma ferida aberta, ainda vermelha e sensível pelo sangue que sente cada leve brisa, ela sentia e ouvia as lamurias de seus ouvintes com todo empatia e compaixão. Sentia, sabia, vivia. Suas dores a levaram por um caminho tenebroso e triste da qual ela entendia bem como cada ser angustiado ao seu redor se sentia. Chorou escondida, travesseiro em lagrimas, chuveiro em prantos, tudo cravou seu coração de um jeito sem igual. Não era apenas bela, era pura, era inocente. Tanto sofrimento a fez apenas estar acostumada com o que a de pior que já não entendia bem mensagens de afeto e afago. Uma leoa selvagem, um ser dominante preso em grades de algodão.
    Eu a observava pasmo com tanta delicadeza. Como pode um ser selvagem não reconhecer sua essência? Lamentava com lagrimas nos olhos seus passos repetidos dentro daquela jaula.
    Uma leoa enjaulada. Presa há anos dentro de tudo que já sofreu.
    Brilhante, ofuscante, uma empatia sem igual. De toda sua beleza a maior era a que saltitava do fogo de seus olhos. Quem dera alguém por breve momento sentir o que aquele coração tem a dizer e a ensinar. Seria um pandemônio de emoções, um mistura de solidão, amor e paixão.
    As grades se abriram pequena leoa, o campo esta aberto. O mundo é completamente seu. Seus lábios macios devem beijar a felicidade que a vida lhe entrega. Tema apenas a prisão.

    Maravilhosa, gostosa, linda, bela, doce e transcendente, não digo isso de teu físico, mas de tua alma. Não oculte seu poder, a cada bela palavra e atenção que tu entregas, paz e felicidade tu derrama em meio a trevas.

terça-feira, 21 de março de 2017

Quando fui no puteiro

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Triste. A única palavra que me vem para descrever. Um globo de luzes vermelho, azul e verde brilhava sobre minha cabeça. Um salão enorme com um palco central e um ferro de pole dance caracterizavam o local. Um pouco mais de setenta homens meio bêbados abraçados com algumas prostitutas. Um som com batidas de funk intercalavam com um sertanejo apaixonado, tudo recoberto por uma luz fraca que trazia ao local um ambiente obscuro para se poder liberar as extravagância da ilusão. Garotas de programa esbanjavam sorrisos livres enquanto abraçavam seus clientes satisfeitos, prevendo suas possíveis gorjetas após uma ou duas horas de sexo. Psicólogas da carne dispostas a receber um determinado valor para ouvirem o que aqueles corpos tinham a dizer. Depois da terceira ou quarta garota que me abordou meu desinteresse em continuar ali já era exacerbado. Não havia nada de bom. Minha incapacidade de conseguir incorporar o personagem ilusório e participar daquela maluquice sexual não me deixava em paz. Não eram as garotas com seus serviços que me incomodavam, afinal eram trabalhadoras e faziam o que entendiam de certo para ganhar seu dinheiro. Meu achaque vinha da aceitação de falsa realidade percebida por aqueles homens.
Por um breve momento as luzes ficaram mais fracas e um strip-tease iniciou. Confesso que foi belo. A dança, a musica, a liberdade. O erotismo era em si apreciável e belo. Ela se despiu expondo as suas partes intimas e naquele momento senti uma leve tranquilidade de receber um pouco de sanidade naquele hospício. Evidente que o sexo era minha pretensão maior, mas minha mente se recusava a aceitar esse devaneio absurdo de fingimentos e máscaras simpáticas. Cada gole da bebida fazia efeito oposto me levando para mais perto da realidade das coisas. Foi ai então que ela se sentou do meu lado. Era linda, ate abrir o sorriso apresentando aquele leve dente torto que a dava um brilho embaçado, porem ainda era linda.
Bia, disse ela. Não era verdadeiro evidentemente. Apresentei-me brevemente, mas o fascínio ridículo e viciante de querer desvendar os indivíduos desfez todas as minhas possibilidades de prazer físico. Em cinco minutos sua vida já era revelada para mim; mãe de dois filhos, endividada, trabalhando a pouco tempo naquele ramo apenas para pagar dividas após o marido morrer baleado a um pouco mais de um ano. Morando em um barraco de fundos na casa de sua mãe em Brasília, ela viajou para longe com a intenção de juntar algumas moedas e depois finalizar sua faculdade de enfermagem que havia parado no terceiro semestre. Um ser completamente desesperado, satisfazendo ilusões apenas para não padecer no universo. O som de November Rain tocava ao fundo e tudo que meu coração queria era ir embora, fugir e descansar.
Desejei boa noite e me levantei agradecendo sua simpatia e pedindo desculpa pelo tempo que a fiz perder. Um sorriso de canto meio forçado, sem muito relevância, mas com um pouco de pesar se expressou em sua face. Não soube ao certo se era pelo negócio perdido, ou pelo único momento que alguém provavelmente a ouviu para saber de seus reais motivos e decisões.

Era um puteiro na beira da estrada. Uma casa de prazer. Mas a mim, só interrompeu o coito.

É ruim, mas é amor

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     Era manhã de sábado quando ela entrou revoltada batendo a porta logo atrás.
     - Eu quero dar meu cu se eu amar alguém de novo na vida. Odeio aquele canalha!
     Jogou-se no sofá e permaneci confusa levantando a sobrancelha e olhando pelo canto do olho com meu pacote de bolachas na mão. Dividíamos o apartamento fazia algum tempo e essas retóricas já eram comuns na vida da minha colega.
     - Conheço uma marca boa de vaselina.
     - Eu to falando sério – explicava gesticulando exageradamente como de costume – homem não presta ninguém presta. Que saco! Amar alguém é muito difícil. – fiquei calada mastigando meus biscoitos – você vai ficar ai, sem me ajudar?
     - Quer saber de verdade? – falei ainda de boca cheia
     - Claro que sim.
     - Sabe o que eu acho; as pessoas acham que o amor é um sentimento individual, que é somente ele em si mesmo. Do contrário de todos os outros, dentro do amor estão contidos todos os outros sentimentos. Você pode odiar uma pessoa e não ama-la, mas nunca conseguirá amar uma pessoa sem sentir ódio de vez em quando. Você consegue sofrer sem amor, mas nunca amar sem sofrer. O amor é uma caixinha onde estão todos os outros sentimentos. Por isso tantos conflitos e brigas quando estamos amando, é um pandemônio dos infernos porque nosso coração chacoalha o tempo todo fazendo essa zona de reações se misturarem. Amamos sim e junto nos alegramos, sorrimos e festejamos. Somos leais e cegos pelo amante, mas também sofremos, lamentamos, choramos e odiamos vez ou outra. As pessoas confundem, acham que só porque sentem uma determinada coisa oposta ao amor pensam que isso não é mais amor. Esta tudo dentro dessa caixa bagunçada. Vou te dar outro exemplo; Imagine um feixe de luz branca – comia meus biscoitos tranquila – não há duvidas de que a luz é daquela cor e pronto, agora aponte pra um prisma de cristal, o que teremos? Vermelho, azul, amarelo, roxo e várias outras cores. Amor é luz, ilumina nossa alma, e vez ou outra ele se confunde em outras cores.
     - Você ainda ta fumando maconha? – me olhou com olhar critico e duvidoso.

     - Porque você acha que to comendo bolacha? Já me faz um favor, me trás um copo de água, deu sede.


segunda-feira, 20 de março de 2017

Sim, vai dar tudo errado!

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       Não vai dar certo. Você provavelmente vai se frustrar e nada do que planejou vai acontecer. Talvez seu casamento seja horrível, seu trabalho completamente frustrante e sua vida vai só andar pra trás. Você não vai conseguir perder peso ou engordar. Vai levar um fora de quem ama. As dividas talvez aumentem e seus amigos te abandonem. Você vai chorar, espernear e se lamentar pelos cantos da casa reclamando de como tudo não funciona quando é com você e para os outros parece ser tão fácil. Não vai ter frase de auto ajuda ou conselho amigo que te tire a angustia de ver tudo indo contra você. Não vai ser um recado escondido atrás de um quarto de hotel que deixará você mais feliz. Sua vida vai ser horrível. Depois de tudo isso você vai se fechar pro mundo, pras pessoas, ficar com cicatrizes e carregar alguns aprendizados que vai achar que são verdades absolutas. Talvez não se isole de todos, mas sua mente e coração estarão sempre na defensiva esperando o pior, afinal sempre foi assim.
       Acredite, não vai ser, mas tudo depende de você. Não é o mais forte ou o mais inteligente que sobrevive, é quem melhor se adapta. Não lute contra a vida, você sempre vai perder. Não pense que tudo acabou e que infelizmente as coisas vão ser sempre assim. O universo esta em completa mutação e você faz parte dessa dança. Se adapte e evolua ou irá encontrar o abismo da morte muito mais rápido do que o esperado.

      Não, o texto não é pra te ajudar. Você vai continuar fudido. Mas o que importa não é o quanto consegue bater e sim o quanto voce consegue apanhar. No final das contas voce vai ver que a maré nunca esteve contra, só um bocado turbulenta.


domingo, 19 de março de 2017

Atração dos Opostos...


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- Professor – levantou a mão na sala lotada – isso que o senhor falou, sobre os opostos se atraírem, serve para os relacionamentos? – a turma riu e voltaram os olhos ao quadro negro.
- Boa pergunta – largou o giz e tirou os óculos colocando-os sobre a mesa – Existem dois universos conhecidos que são espetacularmente fascinantes. O universo que nos cerca e o que nós carregamos mente adentro. Do primeiro digo que só evoluiu graças aos conflitos e opostos. Uma combustão, uma explosão e buum, temos as estrelas, galáxias, planetas e tudo mais. Todas as coisas sempre se deparando com seu oposto para uma nova transformação, seja pelo acaso ou pelo ato divino. A natureza desde sempre entendeu que jamais poderia ir mais longe continuando imutável, sempre buscou o conflito, o oposto do que se era tendo plena convicção que isso seria o melhor. Aos crentes, podemos dizer que Gaia sempre esteve trabalhando para garantir a sobrevivência fazendo com que toda matéria conflitasse em harmonia. Agora, sobre o universo que em nós habita, as coisas são mais complexas. Imagine que você se depare com alguém equilibradamente diferente de você. O ser humano é um ser pensante e racional que esta sempre em processo de evolução. Essa pessoa lhe traz alguns conflitos e incômodos pessoais, isso é o oposto do seu universo, te incomoda e te leva a um pandemônio existencial que pode dar apenas em duas coisas; destruição ou evolução. Somos deuses de nossos próprios planetas e universos internos. A questão não é se os opostos se atraem nos relacionamentos, a questão é o quanto você esta disposto a evoluir com essa briga galáctica.
- Vai cair na prova?

- Cai todos os dias – tocou o sino e fim da aula.


sábado, 18 de março de 2017

Uma conta cara...

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- Vocês são idiotas? - Todos na mesa pararam e olharam para ela. Os cinco amigos largaram as cervejas devagar e ficaram um pouco confusos a encarando – Faz meia hora que ouço essa conversa fiada de vocês sobre reciprocidade e desapego. Porra gente é isso que é amor pra vocês? Deixa eu dizer uma coisa; o amor nunca se baseou na reciprocidade, amar é querer o bem ao outro, não a si mesmo. É desejar que mesmo que não seja com você a pessoa esteja plenamente feliz. Se vocês querem alguém devolvendo todo afeto que dão é melhor criarem um cão que vai estar lá sempre disposto a te dar atenção. Amor também é abandono e se vocês não entenderam isso, nunca entenderão o amor. Entendam que uma mãe ama o filho independente do retorno afetivo dele, e digo esse exemplo pois é o exemplo mais puro de amor. Vocês querem se desapegar daqueles que não responderam suas expectativas e esquecem que quem escolheu amar foram vocês e o que se tem de retorno pode não ser na mesma intensidade, mas a culpa não é do outro, é somente sua. Amar é aguentar o desdém, o abandono, aceitar a partida, querer ao lado mesmo que o amante não queira. Amar é aceitar a dor que traz conforto. Amar meus amigos é o pior sentimento que se pode ter, pois ele gruda pior que chiclete no cabelo e te deixa diariamente conflitado. Não se escolhe amar como também não se escolhe morrer, apenas acontece. Posso dar mil exemplos dos amores que continuaram firmes mesmo quando o outro virou as costas, apenas para mostrar que amor de verdade aceita até o adeus e a perca de esperança. Se não estiverem dispostos a deixar o outro partir, não o ame. Se não estiverem dispostos a esperar, não ame. Se não estiverem dispostos a serem esquecidos jamais ame. Ate quem ama fere sem querer.  Mas se escolherem amar, não voltem atrás, aceitem o mal que ele tráz e se, talvez, digo apenas se talvez ele voltar, fiquem felizes por não ter largado um sentimento tão complexo e divino – o garçom chega com a conta e a entrega – Que caralho de conta alta! Não vou pagar o couver, não pedi  pra ninguém cantar. 

terça-feira, 14 de março de 2017

Sua calcinha rasgada...

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Seminua. La estava ela deitada me olhando com uma de suas pernas dobradas, e suas mãos passeando em seu corpo me chamavam. Seus olhos de nebulosa me consumiam como dois buracos negros mortais. Seu corpo constelação. Ela toda universo e eu astronauta. Minha boca já salivava um pouco ao olhar ela apenas com aquela calcinha de rendas.  Mergulhei na imensidão do seu conjunto, meu corpo sobre o dela a forçou baixar a perna. Já podia sentir seu perfume enquanto escorregava meu olfato dos seus seios ao pescoço. A vida é bela com aquele cheiro e me perdia no aconchego da sua nuca. Ela entregava cada parte de si enquanto eu avançava. Um cão faminto por sobre a sua presa, descobrindo qual parte iria devorar primeiro, queria toda em uma só mordida. Cheirava cada lado de seu rosto enquanto pressionava meu membro sobre seu quadril. Suas mãos tentaram em vão cravar seu desejo em minhas costas e logo as tomei com força e segurei sobre sua cabeça. Seus olhos me fixaram e meu peito se encheu de uma euforia, uma mixórdia viciante de um drogado. Entregue aquele universo particular, me perdi nas constelações de sua silhueta. Minha boca em seus seios chupavam e cheiravam seu corpo aumentando  cada vez mais mina vontade. Desci devagar definindo cada canto de suas curvas, como um viciado em varias carreiras de cocaína, a animação descontrolava minha mente e podia sentir a delicia de cada cosmos dentro dela. Sua barriga era minha perdição total e meu carrasco final, um perfume individual se guardava ali, uma vontade canibal emanava do seu centro. Seu corpo dançava como o oceano em paz que balança suave com o marejar do vento. Minhas mãos já me acompanhavam na peregrinação e desciam ate as rendas de sua ultima veste. O ultimo controle acabava ali. Minha boca beijava por cima de sua calcinha e ia descendo entre suas pernas, meus dedos se organizavam para abrir caminho para minha língua que já podia sentir o úmido do seu prazer. Um beijo, um gemido tímido e gostoso. A chupava num ritmo valsado deliciando seu desejo como sorvete escorrendo pelos dedos. Empurrava aquela maldita roupa e a ira já tomava conta de mim. Seu corpo oceano já fazia ondas. Desgraça de calcinha. Uma mão puxava meu cabelo enquanto a outra tapava sua própria boca e a perturbação ia crescendo. Sem paciência mais para aquela veste, meus dedos confabularam entre si e enterraram toda sua ignorância nas rendas rasgando num susto aquela maldita calcinha. Era uma caça a partir de agora, e a vitima era a plenitude do prazer. Ela me puxou pelos cabelos, entendi o recado e coloquei suas pernas em meus ombros. As nebulosas estavam em chamas. Senti o cheiro de seus lindos pés e coloquei todo meu prazer dentro dela. Um encaixe perfeito. Eu a olhava, admirando cada movimento seu. Ela Jogava sua cabeça para trás e segurava os lençóis enquanto o movimento intensificava sua vontade. A dança ia aumentando conforme seu corpo pedia, eu apertava suas coxas travadas em meus braços degustando aquele momento sugando todo desejo como um vampiro no sangue. Seu corpo já descompassado se contorcia num ritmo frenético apertando os travesseiros ao redor. Um universo em expansão, um big bang de amor, uma super nova de excitação, seu gozo explodiu num grito de prazer ecoando por toda a galáxia de nós dois.

Paz. Silencio. Serenidade. Seus olhos abriram devagar, já travessos e inocentes me julgaram – essa calcinha era nova – e esboçou um sorriso malicioso. Deitei ao seu lado namorando seu rosto, esbocei algumas palavras e adormecemos. Manhã logo vem, abro os olhos sentindo os raios do sol e me encontro sozinho, abraçado ao travesseiro e a casa vazia. A solidão me devora e reflito – Seria tudo um sonho, ou apenas lembranças?


domingo, 5 de março de 2017

Estrela Perfumada...

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         Era fim de carnaval. O açaí manchava sua boca de um roxo escuro enquanto ela falava. Contava suas aventuras do final de semana e segredos de sua cidade pequena, ele imaginava pelo menos. Não a ouvia bem, o vento soprava contra ele trazendo aquele perfume que a tempos atrás ainda estava na sua camiseta que ela usava para dormir. Um tipo de droga viciante que lhe havia feito andar tantos quilômetros apenas para vê-la. Despercebida ele a observava  tranquilo, sem medo. Foram dias turbulentos, uma guerra jamais travada. Naquele momento havia paz, uma paz estranha e que a muito ele não sentia. Ela ria, conversava, falava e discutia com seus outros amigos. Ele só ouvia e esperava a próxima soprada do vento já que não podia mais cheirar seu pescoço como sempre fazia quando a abraçava por trás. O açaí tinha acabado, mas sua boca ainda salivava. O vento soprou novamente, cada brisa trazia consigo uma memória dos dois. O perfume entrava pelas suas narinas ate seu coração como gasolina em motor. Sangue pra tubarão.
        Saíram dali para uma volta, dois estranhos e um perfume que se materializava no carro. Já estava ficando tarde. O tempo sempre foi um carrasco, agora mais que nunca. Ela falava da vida com tamanha liberdade de espírito e ele não queria nada, apenas ouvir cada historia aproveitando aquele momento.  Sabia que não ia durar. Subitamente ele vê caindo uma dádiva dos céus, uma estrela cadente. Ele a interrompe apontando desesperado e pedindo para que ela fizesse um pedido rápido. Na inocência de uma criança ela põe a mão no rosto, fecha os olhos e começa a pensar no que pedir para aquele corpo celeste. Ele, olhando aquela cena admirava cada curva de seu rosto, ficou em silencio dando tempo para não atrapalhar aquela estrela sentada ao seu lado. Ela confabulava algo em sua mente e ele já havia feito seu pedido em silencio repetidas vezes para que os céus não se fizessem de surdos.

        Na porta de casa, um ultimo abraço. Uma respirada forte para poder puxar o máximo do seu perfume e um adeus. Ela se foi, talvez agora pra sempre. A porta do carro se fecha, ela some nas sombras e ele ao olhar pro céu, reza para estrela que mais cedo caiu; Ouça novamente meu lamento, dei-me ela!


sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Quando o Amor nao quer ir...

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Aquele choro sofrido e eterno debaixo do chuveiro, um soluço descompassado e sem fim. Como é triste quando o Amor não quer ir!
Sentimento de casa vazia, a cama agora tem muito mais espaço, os planos mudaram completamente e todo mundo sabe que não tem mais volta. Mas aquele sentimento ainda permanece como um móvel velho que a gente sempre deixa pra tirar e levar pro porão mas nunca cria coragem. O amor é um sentimento teimoso; dizemos pra ele que já era, que acabou, que tudo findou e ele continua lá firme e forte como um vírus letal trabalhando para tirar nosso último suspiro.
Quando o amor pega suas malas, leva consigo um pouco do nosso oxigênio. Respirar se torna um pouco mais difícil. A porta se fecha em nossa frente e a dor nos abraça com força tentando nos ajudar. Aí vem as noites mal dormidas, as refeições não feitas, os choros espontâneos, e a falta de sentido em tudo que se vê. É como olhar para o céu aberto no centro de uma cidade cheia de luz. Sabemos que existe ali acima de nós uma infinidade de estrelas a nos observar, mas lamentamos não poder enxergar. A partida deixa um vazio e uma angustia como se alguém deixasse apenas algumas poucas estrelas para observar, os pontos luminosos foram surrupiados do infinito e o brilho que resta é opaco.

O amor acaba meu caro - Temos acreditado o contrário até hoje, porém a cada dia provamos desse tal feito. É quase uma amputação sanguinária, um sentimento de assalto. Alguém levou o que era seu, e pior, quem levou foi seu próprio objeto de desejo. O dia vai nascer e a lua vai crescer nas noites e não há nada que possamos fazer para voltar atrás. As lagrimas vão molhar os lençóis noites a dentro e aquela vontade de mandar uma mensagem de despedida vai ficar sendo ruminada, redigida e apagada pelos dedos a todo momento na esperança de que isso mude algo, como se o gesto repetitivo pudesse também repetir o que uma vez foi real. Mas o amor se foi colega! Os perfumes, músicas e filmes irão lembrar; mas quando o amor se vai, o sofrimento é o único acompanhante nas tardes dos fins de semana. Não foram os filhos, família, trabalho e muito menos você, simplesmente ele se foi. Acabou, acontece...
            Você vai desmoronar quando lembrar, vai procurar justificativas, culpar inocentes e vez ou outra odiar o ex amante na esperança de que isso amenize ou reverta os verdadeiros sentimentos.

Aceite o dom da despedida, ele traz uma dor presente, latente, intermitente. Entretanto, no findar tudo se torna paz, e para chegar a tal paz, você deve deixar o amor ir. Liberta-lo de seu peito como um pássaro selvagem que desesperadamente belisca seu interior comendo cada parte dos seus órgãos te causando um desespero assolador. É preciso entender que isso só termina quando as grades da posse são abertas abrindo caminho para liberdade, quando o Amor vai embora meu pequeno amigo, aceite a solidão como parceira. Ela consola, evolui, mitiga a dor e é a única capaz de abrir seus olhos e mostrar que algumas coisas realmente não nos pertencem, mas nos ensinam.

Plumas, penas e prisões

  - ... três meses de prisão preventiva.. O promotor vestia esses lenços pretos no pescoço, uma espécie de babador ao contrario. Faltava-l...