quarta-feira, 13 de maio de 2020

Amor Libertário


Manifestações como as de 2013 provavelmente se repetirão – Blog do ...

Manifestações de 2013, março. Impeachment, corrupção e crises financeiras. Conheci ela gritando no meio da multidão com um cartaz branco, “TA TUDO ERRADO” escrito com batom preto. Como se a grana só tivesse dado pro papel e o batom já era um item cotidiano. Típica hippie de dreadlock castanho e uma franja pintada de vermelho. Uma mendiga com quem você se casaria fácil. Amigos que eram amigos de amigos de um amigo meu, que foi comigo – porque em Brasília é assim – nos apresentaram, e em todas as “reuniões de cúpula rebelde”, como ela mesmo dizia com uma voz de agente da KGB infiltrada, a gente se topava.
No primeiro dia nos beijamos. Ela me beijou na verdade, eu não imaginaria que tinha alguma chance. Foi anárquico. Tinha cheiro de ervas e uma boca macia. Linda. E livre.
Nos dias que os atos eram movimentados, desaparecia em meio ao caos e surgia depois, descabelada com o olhar em fúria após ter corrido da policia, “GOVERNO FILHO DA PUTA!” gritava com o dedo do meio em haste pro Congresso e me beijava, “é bom ter uma boca pra beijar na multidão” e saía com um sorriso libertário. Ela era do amor livre, da vida livre e revolução era sua paixão. Uma boca afiada e uma mente politica temperada com a malicia das periferias da capital do país. Combinação perfeita pra uma rebelde. Era revolução, mas também era por diversão. Tudo é por diversão.
Junho de 2013, mais de dez mil pessoas plantadas em frente ao Congresso Nacional com policiais em corrente diante dos espelhos d'água. Eu me defendia do spray de pimenta e canhões de luz que me cegavam as vistas, quando ela me puxou pelo braço,”Vem! RÁPIDO!”. Subimos a grama indo para lateral rumo a Cúpula do Povo. Ela odiava aquilo, dizia que “a do Estado também é nossa, isso devia ser uma bolha, não duas cúpulas”. Era impossível passar, a gente se espremia, um coagulo de pessoas que de repente estourou. Eu vi de longe os primeiros a subirem na cobertura, era real. Uma guerra, e o castelo havia sido tomado. Nós vencemos. A luta era outra, sempre é, mas aquela era nossa vez. Ela me olhou num susto com as pupilas marejadas de emoção e entusiasmo, e correu. Subi e via as sombras gigantes refletidas nas paredes curvas daquela bacia branca, as bocas não paravam de gritar e o chão tremia com o peso de mais de dez mil ideias que estavam cansadas de pedir aquilo que já era delas por direito. Então ela apareceu e me beijou, “é bom ter uma boca pra beijar na multidão”. E sumiu.
Congresso Nacional tomado, garganta rouca, dez mil pessoas e um beijo de amor livre. É assim que se faz uma revolução.

Plumas, penas e prisões

  - ... três meses de prisão preventiva.. O promotor vestia esses lenços pretos no pescoço, uma espécie de babador ao contrario. Faltava-l...