Não vai dar tempo. Vejo aquele automóvel a alguns metros de
distancia se aproximando na via. Na beira da calçada aguardo sua passagem. Não quantifiquei
o raciocínio. Não estudei a distancia vezes a velocidade. Apenas senti que não daria
certo correr o asfalto. Como é difícil acreditar. Ter fé no buraco das próprias
mãos é uma tarefa árdua e frustrante. As vezes o Jesus pode ser São Longuinho. Aquela
mulher na outra ponta da mesa do bar não pode estar olhando para mim. Não sou tão
atraente, nem tão alto. Magro de mais e nada másculo. Só tenho quatorze de pau.
Não dou conta. Deve ser outro. E mesmo se fosse não dou conta da potranca. Meus
amigos me disseram num dia em nossa roda, que minha ideia era boa. Bobos que são.
Não é lá grande coisa. Um dia desses vi na TV o rapaz que ouvira minhas explanações
naquela data falando de uma coisa bem interessante, uma boa ideia. Parece familiar.
Só pode estar me traindo. Afinal não sou tão completo como ela deseja. Não estou
tão bonito. Rejeitei aquela vaga, não conseguiria dar o que precisavam. Não posso
passar na prova. Sei do que sou capaz, mas isso não dá. Ninguém pode ser
plenamente amado. Não se pode confiar nos amigos. Como é triste acreditar. Em Deus.
Na fechadura da porta. No céu azul. No universo. Como é duro a atividade de ter
que crer em infinitas possibilidades. Não
posso ser rico. Não posso ser forte. Não posso ser ateu. Cristão. Funkeiro. Poeta.
Amante. Sanguinário. Não posso ter olhos de soda. Quer saber. Da tempo sim. A freada
brusca. A pancada violenta. Eu. No chão. Não acredito! Será que existe céu?
quinta-feira, 8 de janeiro de 2015
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Plumas, penas e prisões
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