quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

 




         Porque Jó teve que sofrer tanto? A narrativa da história de Jó sempre me deixou incógnitas.

Dois seres celestiais fazem uma aposta e decidem punir um homem do qual eles fazem questão de dizer que é o melhor homem da face da terra.  Após doenças, mortes, tragédias, discursões, perdas materiais, brigas com amigos e família, crises existenciais, iras descontroladas e uma infinidade de boletos não pagos, ele se depara com o vencedor da aposta, que na ocasião não lhe responde nenhuma de suas perguntas, e mesmo assim o obriga a aceitar essa realidade completamente desconexa sem reclamar. Depois disso ele recebe tudo em dobro e o prazer de ter mais quatro gerações.Ele não tinha culpa de nada, levou a pancada e não fazia ideia do que estava acontecendo. 

O que se passava na cabeça de Jó?

Em todos os seus diálogos as questões de Jó fazem total sentido, quando a gente sabe o que está acontecendo por trás de tudo, mas na perspectiva real, as coisas estavam muito mais fora do alcance. Alguns fazem questão de lembrar que ele teve o dobro de filhos, mas e os que morreram? Uma aposta cruel que proibiu um homem até de morrer. 

Porque os deuses continuam jogando conosco? Coisas acontecem sem sentido, regras e caminhos que seguimos sem destino. Surras diárias de vida com ferrolhos violentos e pesarosos. Pessoas que amamos morrem e a gente se pergunta: Porque? A vida gira incansavelmente e as coisas acontecem num compasso de escolhas e consequências. Coisas aparentemente boas, outras falsamente ruins e experiências que se em algum momento tivéssemos a escolha de não passar, não sofreríamos tamanho achaque. Como seria se tivéssemos controle de nossas vidas? O que fazer quando nem mesmo sendo a melhor pessoa que você acha que pode ser, a vida vem e te dá uma rasteira violenta e sem sentido?

Esse ano com certeza me fez entender melhor o Livro de Jó. E tenho certeza que outras quase oito bilhões de pessoas também. Todos os dias ganhamos ou perdemos sem saber se é sorte ou habilidade, força de vontade ou dinheiro. Bilhões de almas desesperadas lutando pela sua sobrevivência e felicidade, e a maior parte está mais pra Jó do que pra Davi, “alguém segundo o coração de deus”. Uma raça inteira nas mãos do Grande Ser Supremo, seja lá qual for seu nome. 

Se tem uma coisa que aprendi nesse apocalipse existencial é que nem sempre as coisas vão fazer sentido, e na maioria das vezes não fazem mesmo. Só nos sobra aceitar, agradecer e continuar a luta, e se a ferida doer tem caco de telha pra ajudar a coçar.

Jó é um dos poucos livros que respeito na bíblia, mas com certeza é um dos mais sábios.

“Nu eu vim e Nu eu voltarei”, uma espécie de “Foda-se” que traduz bem a essência do livro. No final, tudo vai passar e a nossa única certeza é que a morte já esta literalmente a pairar no ar.

Desejo sorte aos jogadores e torço para que seus deuses sejam bons em apostas.

Plumas, penas e prisões

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