quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Dia


Resultado de imagem para sorriso

5:32. Despertador toca
Levanta rápido. Pantufa. Escova os dentes e lava o rosto. Olhada no espelho. “Hoje vai ser um grande dia”. Corre pra vestir a blusa. Aperta botão. Errado. Desfaz. Aperta botão. Calça sapato. Sem tempo pro café. Passos rápidos. Não corre pra não suar. Tropeça. Resmunga calado. Ônibus não chega. Olha no relógio. Atrasado. Parada lotada. Chega ônibus. Corre pra entrar. Alguém pisa no sapato. “Lavei ontem essa merda”. Em pé. Calor. Aperto. Outra pisada. Da sinal pra parar. Não para. “OOOooouuu”. Parou longe. Desce. Passos rápidos. Não corre pra não suar. Trabalho. Digita. Envia. Conversa. Formulário. Bronca do chefe. Arquivo errado. Festa surpresa do colega da mesa ao lado. Risos. Derrama refri na blusa. Sapato pisado e blusa com sabor de laranja. Fim de expediente. Passos rápidos. Não corre pra não suar. Tem horário com a namorada. Cafeteria. Atrasado. Justificativas. Conversa. Ela pede um tempo. “mas porque?”. Cai café na calça. Sapato pisado. Blusa com sabor laranja. Café na calça. Para lotada. Ônibus atrasado. Chega ônibus. Não corre. Da na mesma. Lotado. Desce. Abre porta. contas atrasadas no chão. Banheiro. Olhada no espelho. Suado. “Não corre pra não suar”.
00:24. Dorme.

Uma triste carta de um ateu convicto

Resultado de imagem para quadro criaçao



     “O senhor tem cinquenta centavos?”
     Odeio quando o caixa faz esse tipo de pergunta. Adoentado com discalculia crônica, esse tipo de indagação só serve para me humilhar em público. Foi nesse dia, saindo de uma padaria com sete pães de sal, que a divindade me disse adeus.
    Do contrário de muitos, minha retirada do rito religioso não foi devido a algum tipo de revolta ou indignação com o sistema opressor e toda essa essa ladainha. Muito menos a ignorância de me achar superior aos que pensam assim na ideia de que esse pensamento é retardatário. A única atribuição para tal feito, foi simples, singela. Deus simplesmente não está interessado em minha pessoa.
     Antes de mais nada, eu digo; Durante toda minha vida, lutei para acreditar na existência do Pai Celestial Criador do Universo e Guardião da Vida. Li, reli e esquadrinhei cada religião ou rito que me ajudasse nessa esperança. Cheguei ao ponto de nem considerar o deus cristão pois já entendia que só era a primeira camada de várias outras que viriam a se desfazer. Descobri tantos paraísos e tantos infernos. Descobri que todo mundo vai pro inferno da religião de alguém. Descobri que a fé só faz sentido para o crente. Cheguei a encontrar meu próprio “deus”, aquele livre de qualquer vínculo filosófico religioso. Persegui milhares de deuses e nenhum me deu uma singela piscadinha de aceitação. Após todo esse tempo, lutei para continuar crendo na ideia ingênua e particular que em algum momento magico a luz da espiritualidade me incendiaria e eu enfim me tornaria o grande locutor de uma caminhada cética que teve seu triunfo aos pés do criador (ou criadores). Anos de história não me deixaram continuar. Aceitar que tudo aquilo não existia doía meu coração. Não podia ser, sempre foi tão forte, eu sempre senti, eu sempre acreditei, eu tinha certeza. Onde foi parar tudo?
     A necessidade humana em terceirizar suas responsabilidades nos fizeram ser extremamente criativos na arte da imaginação. Em todo traço minúsculo dos Sapiens na história do universo, tudo que vejo é uma histeria em massa que transcende gerações e desvincula qualquer tipo de realidade e responsabilidade. Tudo que eu sempre senti quando acreditava em deus continua aqui. Todos os sentimentos, esperanças, amor, fé, cura, paz, tudo, absolutamente tudo ainda está aqui dentro. Porém, com um medo terrível de aceitar essa verdade, tudo é meu. Nada nunca foi de fora. Meu impulso de ser melhor nunca foi deus. Eu sempre fui deus de meu próprio universo e estranhamente sempre tive medo dessa responsabilidade. Assim como uma boa parcela dos religiosos.
     O peito estufa e a boca se enche quando um ateu afirma sua filosofia, eu porem, chorei. Olhei para o céu com respeito e disse adeus. Assim como os padres faziam. Tenho certeza que deus entenderia, se ele existisse. Hoje entendo que pertenço ao conglomerado de vida que ocupa a finidade desconhecida do espaço, só isso. É triste sabermos que não somos especiais. Que alguém de outro mundo ou dimensão não liga para o que você faz ou fala, melhor, que na verdade isso nem existe. É como uma brincadeira de criança que chega ao fim. A esperança no amanhã não está mais na crença de que poderes sobrenaturais irão me ajudar, e isso meus caros, é libertador.
     Não quero com isso insultar ninguém, não sou nem um pouco digno disso. Muito menos convencer qualquer um de minha ideia. Meu objetivo maior é ter paz. Entendo a grande preocupação de meus amigos e próximos com meu bem estar após a morte e agradeço. Continuem torcendo, a vida continua girando e tudo que se pensa hoje pode mudar amanhã. A descrença em deus não me torna amigo de satanás, apesar de conhecer alguns demônios. É apenas mais uma ideia nessa mixórdia de santos e humanos.
     Se um dia algum desses deuses quiserem me castigar pela audácia, prefiro o inferno do que o paraíso de um ditador.

Plumas, penas e prisões

  - ... três meses de prisão preventiva.. O promotor vestia esses lenços pretos no pescoço, uma espécie de babador ao contrario. Faltava-l...