terça-feira, 18 de julho de 2017

Uma Musicista de Merda - #1UmCisco

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“- A essência da música se baseia basicamente em Pausa e Som - um amigo havia lhe dito uma vez a muito tempo – assim como na vida. O problema é que a gente sempre faz barulho na Pausa ou cala a boca na hora do Som. Isso fode com tudo.”
 Era festa na cidade, onde era certeza que ia encontrar ele. Virou seu copo de cerveja, escondida atrás de uma árvore, pois já tinha visto ele de longe e aquela maldita falta de ar e coração acelerado atacaram novamente. “Agora vai”, pensou.
Desde seus onze anos o frio na barriga, o coração batendo forte e as mãos suando eram pandemônios dentro dela quando ele chegava. E nada havia mudado.
Aos treze a desgraça do frio na barriga, o coração palpitando doido e as mãos encharcadas acompanharam o primeiro beijo, sem língua é claro, quem sabia beijar aos treze? Começaram a namorar, era eterno. Ai acabou.
O Tempo confabulava contra eles desde então. A distância era grande e os encontros muito ocasionais. Ela solteira, ele namorando. Ela namorando, ele solteiro. Vez ou outra olhares se esbarravam em festas. Namoraram na faculdade. Terminaram. Se viram alguns anos depois. As mãos suaram juntas com a dele várias vezes. E lá se vai novamente. Mas não importava, sabiam que um dia iam ficar juntos. Era o destino. – “Eu não vou fuder com tudo” – pensou ela criando coragem pra sair de seu abrigo improvisado – “dessa vez...”
- Oi – disse ele aparecendo de uma vez fazendo ela derramar um pouco da cerveja – preciso falar com você.
- Claro, só deixa eu pegar meu coração que saiu pela boca – brincou desajeitada – eu já ia lá falar com você. É que...
- Vou ser pai. E vou casar – soltou como se fosse mais fácil matar do que torturar.
Sem reação. O coração dela batia a mil, o frio na barriga era glacial e a mão pingava sem ela saber se era o copo de cerveja ou aquele maldito sentimento que já durava quatorze anos. Tudo acabara. Os sonhos, os planos, projetos, carinhos e afetos. Ela sabia ali que não tinha mais como. A cidade ficou silenciosa e o tempo que sempre foi carrasco dos dois se esticou. O mundo tinha parado, deu pra sentir. Ninguém mais caminhava, não havia crianças correndo nem banda tocando ao fundo. O universo entendeu aquele milésimo de segundo como se soubesse ou sentisse a gravidade de sua dor oculta. Aquilo era um “dedinho do pé na quina”. Tinha sido amor, sempre foi. Ia ser por anos. Eles nasceram um para o outro. Mas infelizmente, não seria naquela vida.
- Eei – disse ele passando a mão na frente dos olhos dela – ta ai? Ia me falar algo?
“Sim, ia”.
- Sabia que a música é feita basicamente de Pausa e Som? – deu um gole seco na cerveja – Tipo na vida. E isso é foda, porque eu nunca tive nenhum talento pra música.

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