terça-feira, 4 de julho de 2017

Charles Sophie, esse era seu nome...

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    O observava encostado na porta meio duvidoso sobre nossa conversa até ali.
    - Eu lhe disse várias vezes e por dias incansáveis expus a realidade de nossas vidas. Não foi por falta de aviso nem de companhia que seu fim chegou – falava como se estivesse só – não te culpo. Eu não me ouviria. Confesso que sua visita me causou assombro.
    - Não entendi.
    - Por anos tenho tentado me acomodar na vida que levamos, e com relutância tu negas meus conselhos. Então como se nada tivesse acontecido, vem me pedir auxilio e abrigo. Me questiono  como vão as coisas lá fora – entrou deixando a porta aberta e foi em direção ao seu velho bule de chá – e se verdadeiramente é isso de que precisa - sua paciência e tranquilidade já estavam me incomodando, não era de seu costume – lembro-me de nosso último encontro. Você me deixou aos berros como um louco. Chegou abatido e saiu como um vitorioso com um olhar de que existia alguém em pior estado que tu. Por anos confabulei uma situação – puxou uma cadeira e sentou-se provando seu chá – e se eu tivesse saído por aquela porta? Isso me torturou por dias e dias. A angústia do esquecimento já tomava conta de mim. Porém, um dos piores venenos e remédios para qualquer ser no universo chegou e se revelou, o Tempo. Ele me fez companhia firme e dura incansavelmente e depois de tudo que me fez, tu aparece com esse olhar esperançoso pedindo minha humilde, e negada por anos, contribuição. – deitou sua xícara na mesa e me olhou com uma paz de ódio – pois eu te digo uma coisa seu verme; mesmo que me negues, me assombres, me abandone e me esqueça nesta casa pútrida, eu jamais me calarei, jamais te deixarei em paz, jamais te cegarei para a realidade – deu um tapa violento na xícara e se levantou a me encarar com ira – e sabes por que? Porque tu, tem mais de mim, do que de si mesmo.
    Charles, esse era seu nome. Dor, esse era seu legado. Infelizmente nossas conversas nunca terminavam amigavelmente, porém, desta vez saí e deixei a porta aberta. Espero que o sol lhe apeteça.

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