terça-feira, 21 de março de 2017

Quando fui no puteiro

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Triste. A única palavra que me vem para descrever. Um globo de luzes vermelho, azul e verde brilhava sobre minha cabeça. Um salão enorme com um palco central e um ferro de pole dance caracterizavam o local. Um pouco mais de setenta homens meio bêbados abraçados com algumas prostitutas. Um som com batidas de funk intercalavam com um sertanejo apaixonado, tudo recoberto por uma luz fraca que trazia ao local um ambiente obscuro para se poder liberar as extravagância da ilusão. Garotas de programa esbanjavam sorrisos livres enquanto abraçavam seus clientes satisfeitos, prevendo suas possíveis gorjetas após uma ou duas horas de sexo. Psicólogas da carne dispostas a receber um determinado valor para ouvirem o que aqueles corpos tinham a dizer. Depois da terceira ou quarta garota que me abordou meu desinteresse em continuar ali já era exacerbado. Não havia nada de bom. Minha incapacidade de conseguir incorporar o personagem ilusório e participar daquela maluquice sexual não me deixava em paz. Não eram as garotas com seus serviços que me incomodavam, afinal eram trabalhadoras e faziam o que entendiam de certo para ganhar seu dinheiro. Meu achaque vinha da aceitação de falsa realidade percebida por aqueles homens.
Por um breve momento as luzes ficaram mais fracas e um strip-tease iniciou. Confesso que foi belo. A dança, a musica, a liberdade. O erotismo era em si apreciável e belo. Ela se despiu expondo as suas partes intimas e naquele momento senti uma leve tranquilidade de receber um pouco de sanidade naquele hospício. Evidente que o sexo era minha pretensão maior, mas minha mente se recusava a aceitar esse devaneio absurdo de fingimentos e máscaras simpáticas. Cada gole da bebida fazia efeito oposto me levando para mais perto da realidade das coisas. Foi ai então que ela se sentou do meu lado. Era linda, ate abrir o sorriso apresentando aquele leve dente torto que a dava um brilho embaçado, porem ainda era linda.
Bia, disse ela. Não era verdadeiro evidentemente. Apresentei-me brevemente, mas o fascínio ridículo e viciante de querer desvendar os indivíduos desfez todas as minhas possibilidades de prazer físico. Em cinco minutos sua vida já era revelada para mim; mãe de dois filhos, endividada, trabalhando a pouco tempo naquele ramo apenas para pagar dividas após o marido morrer baleado a um pouco mais de um ano. Morando em um barraco de fundos na casa de sua mãe em Brasília, ela viajou para longe com a intenção de juntar algumas moedas e depois finalizar sua faculdade de enfermagem que havia parado no terceiro semestre. Um ser completamente desesperado, satisfazendo ilusões apenas para não padecer no universo. O som de November Rain tocava ao fundo e tudo que meu coração queria era ir embora, fugir e descansar.
Desejei boa noite e me levantei agradecendo sua simpatia e pedindo desculpa pelo tempo que a fiz perder. Um sorriso de canto meio forçado, sem muito relevância, mas com um pouco de pesar se expressou em sua face. Não soube ao certo se era pelo negócio perdido, ou pelo único momento que alguém provavelmente a ouviu para saber de seus reais motivos e decisões.

Era um puteiro na beira da estrada. Uma casa de prazer. Mas a mim, só interrompeu o coito.

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