Triste. A única palavra que me
vem para descrever. Um globo de luzes vermelho, azul e verde brilhava sobre
minha cabeça. Um salão enorme com um palco central e um ferro de pole dance caracterizavam
o local. Um pouco mais de setenta homens meio bêbados abraçados com algumas
prostitutas. Um som com batidas de funk intercalavam com um sertanejo
apaixonado, tudo recoberto por uma luz fraca que trazia ao local um ambiente
obscuro para se poder liberar as extravagância da ilusão. Garotas de programa
esbanjavam sorrisos livres enquanto abraçavam seus clientes satisfeitos,
prevendo suas possíveis gorjetas após uma ou duas horas de sexo. Psicólogas da
carne dispostas a receber um determinado valor para ouvirem o que aqueles corpos
tinham a dizer. Depois da terceira ou quarta garota que me abordou meu
desinteresse em continuar ali já era exacerbado. Não havia nada de bom. Minha incapacidade
de conseguir incorporar o personagem ilusório e participar daquela maluquice
sexual não me deixava em paz. Não eram as garotas com seus serviços que me
incomodavam, afinal eram trabalhadoras e faziam o que entendiam de certo para
ganhar seu dinheiro. Meu achaque vinha da aceitação de falsa realidade
percebida por aqueles homens.
Por um breve momento as luzes
ficaram mais fracas e um strip-tease iniciou. Confesso que foi belo. A dança, a
musica, a liberdade. O erotismo era em si apreciável e belo. Ela se despiu
expondo as suas partes intimas e naquele momento senti uma leve tranquilidade
de receber um pouco de sanidade naquele hospício. Evidente que o sexo era minha
pretensão maior, mas minha mente se recusava a aceitar esse devaneio absurdo de
fingimentos e máscaras simpáticas. Cada gole da bebida fazia efeito oposto me
levando para mais perto da realidade das coisas. Foi ai então que ela se sentou
do meu lado. Era linda, ate abrir o sorriso apresentando aquele leve dente
torto que a dava um brilho embaçado, porem ainda era linda.
Bia, disse ela. Não era
verdadeiro evidentemente. Apresentei-me brevemente, mas o fascínio ridículo e
viciante de querer desvendar os indivíduos desfez todas as minhas possibilidades
de prazer físico. Em cinco minutos sua vida já era revelada para mim; mãe de
dois filhos, endividada, trabalhando a pouco tempo naquele ramo apenas para
pagar dividas após o marido morrer baleado a um pouco mais de um ano. Morando em
um barraco de fundos na casa de sua mãe em Brasília, ela viajou para longe com
a intenção de juntar algumas moedas e depois finalizar sua faculdade de
enfermagem que havia parado no terceiro semestre. Um ser completamente
desesperado, satisfazendo ilusões apenas para não padecer no universo. O som de
November Rain tocava ao fundo e tudo que meu coração queria era ir embora,
fugir e descansar.
Desejei boa noite e me levantei
agradecendo sua simpatia e pedindo desculpa pelo tempo que a fiz perder. Um sorriso
de canto meio forçado, sem muito relevância, mas com um pouco de pesar se
expressou em sua face. Não soube ao certo se era pelo negócio perdido, ou pelo único
momento que alguém provavelmente a ouviu para saber de seus reais motivos e decisões.
Era um puteiro na beira da
estrada. Uma casa de prazer. Mas a mim, só interrompeu o coito.
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