quarta-feira, 5 de abril de 2017

A 9ª Carta

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Acabou. Ele estava preso já fazia algum tempo e os favores que o guarda realizava findavam naquele dia. Seu ultimo pedido foi um papel e uma caneta.
            Durante sua estadia naquela cela escura e úmida, ele já havia enviado oito cartas para seu amor que, talvez, o esperava lá fora. Duvidava muito disso. Já sentia o sentimento de fim, da solidão eterna e que seu lamento jamais seria ouvido.
Sentou em sua cama de ferro barulhento com parafusos faltando e ficou olhando para aquele papel em branco, pensando no que mais poderia dizer. Silencio apenas isso pairava em sua mente. Não havia mais explicações, ele sabia que qualquer coisa que colocasse ali não valeria de nada. Ele a amava mas a falta de noticias sobre suas cartas anteriores o fizeram perceber que ela já não estava mais lá. Era o fim, sua caminhada terminava ali.
Dobrou o papel em quatro partes, levantou-se e chamou o guarda da janela da porta com um pouco mais que dez centímetros;
- Chefe!
- Diga vinte e nove – seu numero de cela.
- Tome. Muito obrigado pelo favor – e passou o papel pela janela.
- Mesmo destinatário?
- Qual foi minha sentença meso Chefe? – perguntou se distanciando da porta e indo em direção a janela gradeada e pequena de onde podia se ver uma lua crescente.
- Perpétua vinte e nove. Porque pergunta se já sabe a resposta? – o guarda olhava curioso pela janelinha.
- Sou um homem morte Chefe, condenado aqui para sofrer em completa solidão. Homens mortos não escrevem cartas e nem recebem. Não existe destinatário, assim como não existe remetente.
- Se não quer que eu mande a carta, por que me devolveu? – já olhando para papel desconfiado.
- Sou um homem morto Chefe, fala com os mortos agora? – falava tranquilo olhando a lua.
O guarda balançou sua cabeça com desdém e saiu em direção da porta de saída no fim do corredor. No meio do caminho da meia volta um pouco indignado lembrando que a caneta ainda estava na cela.
- Vinte e nove, esqueceu a caneta – não teve resposta.
Se aproximou e olhou rápido pela janela já nervoso pronto para alterar a voz quando o susto tomou seu corpo. Meteu a mão no bolso rápido e desesperado gritando para os outros guardas correrem para dar suporte enquanto abria a porta e entrava num salto.
Lá estava o presidiário, estirado no chão em meio ao sangue escarlate brilhante que ainda escorria de seu peito e uma caneta fincada na altura do seu coração. Seus olhos ainda estavam abertos e serenos como se quisesse ver a lua ate seu ultimo momento. O guarda congelado com a cena, confuso com tudo aquilo percebeu que o papel ainda estava em sua mão agora suada. Desfez as dobras devagar e leu seu epitáfio;
“Melhor seria morrer de amor
Do que fingir
A inexistência
Desta maldita dor.”

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