terça-feira, 30 de julho de 2019

Tereza

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Querida Tereza,

Sei que deve estar surpresa a receber essa carta, já faz algum tempo que não escrevo. Porém, a situação mudou e me obrigo a dizer o que irei lhe dizer. Entendo sua hesitação em me ouvir e espero que não rasgue esta carta antes de terminar de lê-la.
Desde minha partida na primavera, sinto como se minha mente e coração nunca estivessem subido no trem. Meu trabalho aqui tem sido árduo e diariamente me pego fazendo algo errado por ter os devaneios na sua pessoa. Minhas noites no galpão são solitárias e minha única salvação é uma janta que tem sido meu único momento de paz no dia. Quem diria. A felicidade num prato recém vazio. Alguns colegas de trabalho tem perguntado sobre minha vida particular, mas não me dou ao luxo de replicar novamente histórias que já me cansam os ouvidos. Isso tem me deixado com a fama de alguém de poucos amigos. Mal sabem eles o tamanho de minha lepra.
Mas não quero lhe encher de assuntos cotidianos sem sentido, lhe escrevo apenas para uma coisa; Eu te amo Tereza.
Nossas vidas cruzaram e momento certos demais e a perfeição não é do costume de muita gente. Tenho saudade de seus afetos e poemas, de te ver dormindo nas tardes frescas, suas caretas e vícios. Tenho saudade de você Tereza. Nossas almas infelizes gargalhavam de solidão. Vez ou outra me pego repetindo seus atos que ficaram cravados em meu personagem. Escrevo com uma pena e pouca tinta, me desculpe caso não fique claro algumas palavras, a luz vem de uma vela já quase a findar. Mas nenhuma escuridão me atrapalha tanto quanto a de minha alma. Em poucas horas as sirenes vão tocar e voltarei a labuta, e não sei em quanto tempo terei essa leitura em suas mãos, nem ao menos se sairá de seu remetente. Então me limito a resumir minhas tristes vontades a um papel, uma pena, uma vela e uma esperança que não queima mais que esse pavio que me ilumina.
Tereza, se algum dia me libertar desse campo de concentração, quero te encontrar e lhe amarrar em meus braços para que sintas meu coração morrer de tanta vida. E se acaso nosso encontro não ocorrer saiba que sempre lhe amei, pois várias me tiraram as vestes mas só você me desnudou a alma.

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