domingo, 2 de dezembro de 2018

Escritor

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     Existe uma certa tristeza em todo escritor.
     Não se é possível interpretar o mundo sem um certo ar de solidão. Um bom poeta é um exímio solitário. A capacidade do artista em alcançar as emoções dos atentos não está na beleza de sua criação, mas sim na profundidade de sua dor. A tradução de um sentimento é proporcionalmente difícil a intepretação de uma língua oculta. Não basta escrever como as nuvens são leves ou as rosas perfumadas, uma boa e verdadeira arte traz consigo um ar gélido de solidão. Acalentam-se os ouvintes nas poltronas enquanto um pobre coitado reproduz aquilo que ele carrega em mente e alma com uma intensidade satânica de dor. Seja na música, poesia, filmes, pinturas ou qualquer outra transcendência. Toda arte é triste. Os quadros representam saudades e as canções fins trágicos. Até as expressões aparentemente felizes são interpretações hostis de desespero por algo melhor.
     Engana-se quem acha que o bom artista é um bom vivente. Ao artista, viver é um desaforo universal. Desesperar-se na necessidade de explosão através de um vulto rápido de expressão poética é um litigio e um bênção. Ao escritor então, a pior das tarefas.
     Ao escritor faltam pincéis, plumas, desenhos, fotos e canções. Á patuleia, resta a escrita, essa que nem quando se quer dizer, consegue dizer. Cansativamente, o desinteresse público e seu seletivo trabalho ao escrever os tornam cirurgiões de sentimentos. Ao pintor, a tinta para dar cor aos seus devaneios. Ao musico, as melodias mantras para suas hipnoses. E ao escritor, que ferramenta afia sua ideia? Pois a escrita por si só não gera comoção. Ao coitado resta tentar desenhar suas fotos na mente de cada olhar tranquilo, e com sua própria voz em seus ouvidos, recria personagens e paraísos lidos em um papel com palavras desorganizadamente ajeitadas em um samba de pausas e sons.
     Indiscutivelmente, o escritor vaga num universo de impossibilidades de tradução, quando nem um parágrafo consegue explicar as sensações de um dia comum. A esses dou o meu lamento. Sofram, párias. Talvez assim essa infelicidade que lhes transbordam, encantem pequenos oculares, quiçá, sejam até entendidos.

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