terça-feira, 9 de outubro de 2018

PORQUE EU NÃO VOTO


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"a arte de conquistar, manter e exercer o poder, o governo". Assim que Maquiavel definiu política.  

Desde seu nascimento na Grécia, a intenção da política foi sempre ouvir determinados grupos que defendiam seus ideais e desejos através da escolha de seus representantes. Se eu gostava de azul, montava um grupo com uma galera que gosta de azul, escolhia quem era melhor de dialética pra defender o azul e depois ia todo mundo lá dizer que o grande deputado azul era a o cidadão perfeito para defender os direitos do grupo e da nação. Sim, a democracia também nasceu na Grécia. E a tradução da palavra é GOVERNO DO POVO (Poder do Povo, pra facilitar). E assim segue o fluxo. Eu tenho princípios e acredito em determinadas coisas. Se não for eu, escolho alguém que represente bem meu papel, depois, através do meu direito democrático de escolher alguém para me representar, voto no meu indivíduo e aprecio a beleza de ter um Estado comandado por alguém que acredita na maioria dos meus conceitos ou me contento com a derrota sabendo que o outro cidadão teve mais votos por que um grupo maior acreditava nele. Depois disso a máquina do Estado continua rodando sob o comando do eleito preferido e seus seguidores e apoiadores. Isso é a política simples sem dificuldades.

Seria lindo.

Eu, como a maioria, resisto a conflitos desnecessários e cansativos discursões que são meramente religiosas e na maioria das vezes, inútil. Mas exerço aqui o mesmo direito democrático fixado em vossas mentes. Sabendo que a política é um jogo de poder e representação, me alieno da obrigação de escolher um candidato que foge dos meus princípios morais, reais e imutáveis e decido não apoiar quem não condiz com minhas verdadeiras motivações. Votar em alguém que não tem possiblidade de ser eleito mas que condiz com minhas ideias, é uma das únicas demonstrações de política possível e real. Ali fica o simbolismo da ideologia e das vontades de uma nação ou grupo de pessoas. Se em algum momento, o voto foi para quem tinha mais chances de derrubar seu adversário, parabéns, você ainda não entendeu a política e acaba de trair seu próprio destino.

 “O voto é individual e secreto. A escolha é sua. Pense bem, avalie os candidatos e exerça seu direito”. Estas são as frases às quais se agarra o senso comum e também o senso institucional, como a última tábua da salvação da consciência de cada indivíduo. O presidente não será ou deixará de ser eleito por causa de um voto a mais ou a menos. Ou seja, meu voto não faz diferença – embora o discurso da moralidade social não o admita. Ao contrário do que afirma o pseudo-individualismo, o voto é social, e não individual. O voto só cumpre sua função social quando inserido numa ação coletiva. Nessa perspectiva, são as massas que sustentam o Estado Democrático de Direito, e não os indivíduos. Assim, o voto será tanto mais consciente e efetivo quanto mais aglutinador de forças coletivas, se constituindo num vetor das potências sociais. Foi assim, por exemplo, que um ex-operário tornou-se presidente do Brasil.

Entretanto, alcançado este status, surge todo tipo de reação negativa – falta consciência de classe, o país é de mentalidade subdesenvolvida, a mídia controla e comanda a política, os políticos são corruptos, os eleitores são irresponsáveis, o povo tem memória curta, o poder sempre estará com os endinheirados, eu não gosto de política, os trabalhadores estão desmotivados, o contexto histórico não é propício, as pessoas são individualistas, as massas são alienadas, bla, bla, bla. O poço das justificativas é infinito. E, ao fim, volta-se ao slogan: “exerça seu direito com consciência!”. O poço da hipocrisia e da falta de coragem é infinito. Embora muitas das justificativas sejam coerentes e consequentes, é evidente que alguns aspectos estão sendo negligenciados.

Brasil e mundo afora, devem existir outros tantos indivíduos, encaixados ou não em modelos, que tenham relações sociais fracas – uns admitindo, outros não; uns percebendo, outros não; uns conformados, outros não. O que importa aqui é o que diz respeito à participação política, mais especificamente na via eleitoral. Sendo o voto social, é evidente que para esses indivíduos o voto não cumpre sua função. São pessoas sem qualquer influência coletiva e, geralmente, distantes das influências sociais. Por certo que não sou um átomo – basta observar que dependo de muitas forças sociais para comer, por exemplo – mas também não participo da vida de gado, sou incapaz de convencer ou de ser convencido de tal ou qual opção de voto. E, repito, voto que não se insere em determinada força social não tem qualquer sentido.

Esta é a minha própria alienação, e de outros, certamente, mas vejo que a maioria está submetida à face oposta da mesma moeda. Alienação de rebanho, manipulável e suscetível (à propaganda, às lideranças, ao senso comum, à opinião do vizinho, à mídia, ao discurso técnico-científico, às pesquisas, à opinião pública. Esta é a miséria do caráter social do voto, embora não deixe de ser exuberante a força coletiva que o anima.

Se a política é a arte do exercício de poder de influência de grupos sobre a massa, por que é que continuam a convocar os indivíduos às eleições?

Primeiro, que existe de fato um fenômeno social que carrega pessoas à parte de todo e qualquer senso de identificação e ação coletivas. Efeito manada.

Segundo, que tais pessoas podem duvidar, rejeitar e combater todas as permanentes pressões sociais que tentam enquadrá-las, arrebanhá-las, seduzi-las e justificá-las em nome de bandeiras, slogans, grupos, instituições ou coletividades que fazem sentido apenas para rebanhos.

Terceiro, que para os indivíduos, peso na consciência e apelos morais não justificam voto. Um rebanho de vacas pode ser mais atraente do que um rebanho suíno, mas ainda é rebanho.

Quarto, que a resposta mais adequada ao voto compulsório é o voto nulo. Pois a condição primeira para o combate à alienação é o próprio reconhecimento radical de sua existência. A demonstração de insatisfação, única possível até agora, que poderá começar a sinalizar a insatisfação com o status quo.

Ausência-de-si! Esta é a verdadeira palavra de ordem da sociedade, principalmente em tempos de eleições. Intelectuais votando em prol de operários, operários em prol de burgueses ressentidos, burgueses ressentidos em prol de ambientalistas, ambientalistas em prol de empresários, empresários em prol de cristãos, cristãos em prol de democratas, democratas em prol de trabalhadores, trabalhadores em prol de pseudo-radicais, pseudo-radicais em prol de miseráveis, miseráveis em prol deles mesmos, e eles mesmos em prol da máquina político-partidária! E por ai vai.

Vislumbrando essa pequena parte do processo político e seus princípios, me abstenho de aceitar qualquer tipo de opressão feita a minha obrigação de eleger alguém (incluo a pessoa jurídica do partido) que represente realmente os ideais em qual acredito. Não iludido, mas como um touro em guerra, recuso aceitar minha aniquilação moral e social.

E por fim, de todo modo, apoio e defendo todos os direitos e deveres daqueles que ativamente participam desse jogo espetacularmente manipulado e hipócrita do qual, em sua grande maioria, são alienados lindamente disfarçados de pseudos-entendidos políticos. Sem dúvida nenhuma, não sou a maior autoridade política, mas sou presidente de minhas ações e governante de minhas vontades. E por agora, nenhum candidato é realmente bom para minha Política.

Se, na sua mente, não votar é aceitar que alguém tome suas decisões, votar é pedir que ela faça o que quiser com você. Um estupro político ideológico. E me desculpem, mas isso não representa minha vida, minhas ideias e muito menos meu Povo.

 

 

“Naquela época meu instinto decidiu-se de maneira inexorável contra a continuação da condescendência, do seguir-aos outros, do enganar-a-mim-mesmo. Qualquer modo de vida, as condições mais desfavoráveis, enfermidade, pobreza – tudo me parecia preferível àquela ‘ausência de si’ indigna à qual eu me entregara por ignorância, por juventude, e na qual eu acabara ficando pendurado mais tarde por preguiça, devido ao assim chamado ‘sentimento do dever’.”

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