terça-feira, 20 de agosto de 2019

Morte e Luto - A desgraça da Vida

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Quando minha mãe morreu fiquei seis meses de luto sem saber. Hoje eu sei disso.
A morte é diretamente triste. O fim por si só já é difícil, pior ainda é lidar com algo que nunca mais vamos ter de volta. Esse é o dilema da saudade de quem perdemos pra sempre.
O luto é algo que ainda é motivo de estudo e muito mal compreendido por muitas pessoas. O que dizer ou fazer depois da morte de alguém bem quisto, existe alguma formula pra isso? Alguns concordam que não, mas uma coisa é certa; nem a resposta correta seria a solução.
A dor de quem fica é algo que entra naquele padrão de “não consigo explicar”, literalmente. Nunca conheci sinais linguísticos que traduzam a magnitude da rasteira da vida. Minha única explicação é a comparação com uma dor de dente. Sabe aquela dor que só dói quando você lembra? Então. Está lá, tem algo errado, seu corpo já aceitou aquele incomodo natural mas as vezes dói. E dói bastante, acredite. Uma pena não existirem dentistas da alma.
Pior do que ter percebido meu inconsciente semestral, foi ter que assumir isso, “Não acredito que cai nessa”. Como falei, difícil explicar, mas a morte me deu um tiro na testa e após um longo tempo voltei dos mortos sem entender nem saber o que tinha acontecido direito. Falei e fiz coisas que talvez não faria em sã capacidade mental. Talvez o instinto de sobreviver me fez levantar e deitar durante esses dias. A responsabilidade de filhos, empresa, família, amigos ajudaram na labuta diária, talvez eu demorasse mais tempo para perceber isso sem esses fatores cotidianos.
Após minha experiência trágica, consegui sangrar com os que passam do mesmo mal. Descobri que não existe palavra que ajude, não existe explicação, não existe motivo, não existe cura, não existe uma pessoa se quer que possa solucionar a grande questão do adeus.
Aos que (ainda) não passaram por esse caminho, desejo-lhes força, inteligência e um pouco de humor para o grande dia. Aos outros desgraçados por esse privilegio, lamento. Sofram, não há outro caminho. Morram e sintam esse buraco enorme que ficou ai dentro. Coloque aquela música que lembra, cheire as roupas, escreva cartas, saia sozinho, chore com os amigos e desacredite de possibilidades de futuro. Se a dor de morte dói, deixa doer, não existe outro caminho. Infelizmente não há discurso que nos livre disso. Mas se posso contribuir na sua caminhada, lhe aconselho; aceite.
Nós já nascemos morrendo. O tempo conta nossos méritos, julga quando quer tirar nossas conquistas e não há nada que se possa fazer além de aceitar. Sei que é difícil meu amigo, te entendo, mas acredite, parar agora é desperdício de vida e antecipação de morte. Ninguém nos ensina a dizer adeus, e quando isso acontece fica difícil de lidar. É cansativo e doloroso o caminho do luto, mas não pare de se mover.
Prometeu foi um titã na mitologia grega que foi condenado pelos deuses a ficar acorrentado em uma pedra tendo seu fígado comido por uma águia todos os dias, e todos os dias seu órgão era regenerado para um novo banquete. A morte traz essa condenação, dor eterna sem possibilidade de livramento. Acorrentados e incapazes só nos resta sentir as dores na carne e lamentar. Eu gostaria de terminar aqui com uma frase legal que te ajudasse a caminhar, mas só posso te dizer que quando você parar de sofrer, a saudade vai tomar esse lugar, e ainda que dolorida, será muito mais reconfortante. Isso é viver, escolher a dor que se quer sentir. Escolha aquela que combina mais com você.

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