segunda-feira, 25 de abril de 2016

Importante...


“Se você não existisse, quem sentiria sua falta?”. O velho espantado olhava intrigado para sua neta.
“Você com certeza querida, ou não me ama mais?”, brincou.
“Não vovô, fora eu, papai, mamãe, e todo mundo lá de casa, o senhor faria falta pra alguém?”
As palavras eram suaves saindo da boca da criança, mas aos ouvidos pesavam naquele homem que já tanto tinha vivido. “Se eu não existisse, quem sentiria minha falta?” pensou, como dar falta de alguém que nunca esteve presente? A pergunta ficava cada vez mais indigesta. Sim é possível, sofreu. O tempo havia parado, o mundo parecia não girar mais. Aquela criança olhando para os pés, sentado ao seu lado encostando sua cabeça um pouco abaixo de seu peito havia feito uma pergunta simples porem de complexa resposta.
Ele fez um resumo rápido de sua vida, e não conseguia imaginar alguém que daria falta de sua presença. Quem choraria por um sorriso que nunca viu, um conselho que nunca pediu, um abraço que jamais sentiu? Ou aquela ideia genial que mudaria os rumos do mundo, da ciência, tecnologia, saúde, universo e tudo mais, a quem pertenceria?
Lembrou dos amigos, momentos, colegas e pessoas que se esbarrava na rua, quais delas precisariam da minha existência para continuar suas vidas? Ele sabia que não se tratava apenas de uma experiência simples daquelas que animam a gente, tratava-se de mudar completamente o universo de alguém.
Para quem sou importante? Quem me importou para dentro de si durante todos esses anos? Pensou rápido em alguns amores, paixões, mas nenhuma tinha sido grandiosamente surpreendente.
Como pude passar a vida inteira sem ter a plena certeza de que havia realmente transformado a vida de alguém ao ponto dessa pessoa não poder viver sem mim? As perguntas só aumentavam, ele já não sabia quem era a criança e quem era o idoso.
“Eu sei quem sentiria minha falta”, sussurrou a pequena.
O velho fez um movimento suave para olhar melhor para a origem de sua decepção, “Então diga meu doce”.
Buzina.
Sua mãe chegara, já era tarde. A criança pulou do sofá para pegar suas tralhas, beijou sem avô e foi em direção a porta.
“Ei, quem sentiria sua falta?” não perdoou o ignorante.

“Não posso dizer – falou em tom de meia revolta -. Se souber, não serei mais importante pra você vovô, não ira me esperar todos os dias sentindo falta de minha resposta e poderia viver sem minha existência tranquilamente.” Virou as costas e se foi.

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