“- A essência da música se baseia
basicamente em Pausa e Som - um amigo havia lhe dito uma vez a muito tempo –
assim como na vida. O problema é que a gente sempre faz barulho na Pausa ou
cala a boca na hora do Som. Isso fode com tudo.”
Era festa na cidade, onde era certeza que ia
encontrar ele. Virou seu copo de cerveja, escondida atrás de uma árvore, pois já
tinha visto ele de longe e aquela maldita falta de ar e coração acelerado atacaram
novamente. “Agora vai”, pensou.
Desde seus onze anos o frio na
barriga, o coração batendo forte e as mãos suando eram pandemônios dentro dela
quando ele chegava. E nada havia mudado.
Aos treze a desgraça do frio na
barriga, o coração palpitando doido e as mãos encharcadas acompanharam o
primeiro beijo, sem língua é claro, quem sabia beijar aos treze? Começaram a
namorar, era eterno. Ai acabou.
O Tempo confabulava contra eles
desde então. A distância era grande e os encontros muito ocasionais. Ela solteira,
ele namorando. Ela namorando, ele solteiro. Vez ou outra olhares se esbarravam
em festas. Namoraram na faculdade. Terminaram. Se viram alguns anos depois. As mãos
suaram juntas com a dele várias vezes. E lá se vai novamente. Mas não importava,
sabiam que um dia iam ficar juntos. Era o destino. – “Eu não vou fuder com tudo”
– pensou ela criando coragem pra sair de seu abrigo improvisado – “dessa vez...”
- Oi – disse ele aparecendo de uma
vez fazendo ela derramar um pouco da cerveja – preciso falar com você.
- Claro, só deixa eu pegar meu coração
que saiu pela boca – brincou desajeitada – eu já ia lá falar com você. É que...
- Vou ser pai. E vou casar – soltou como se fosse mais fácil matar do que torturar.
Sem reação. O coração dela batia a
mil, o frio na barriga era glacial e a mão pingava sem ela saber se era o copo
de cerveja ou aquele maldito sentimento que já durava quatorze anos. Tudo acabara.
Os sonhos, os planos, projetos, carinhos e afetos. Ela sabia ali que não tinha
mais como. A cidade ficou silenciosa e o tempo que sempre foi carrasco dos dois
se esticou. O mundo tinha parado, deu pra sentir. Ninguém mais caminhava, não havia
crianças correndo nem banda tocando ao fundo. O universo entendeu aquele milésimo
de segundo como se soubesse ou sentisse a gravidade de sua dor oculta. Aquilo
era um “dedinho do pé na quina”. Tinha sido amor, sempre foi. Ia ser por anos. Eles
nasceram um para o outro. Mas infelizmente, não seria naquela vida.
- Eei – disse ele passando a mão
na frente dos olhos dela – ta ai? Ia me falar algo?
“Sim, ia”.
- Sabia que a música é feita
basicamente de Pausa e Som? – deu um gole seco na cerveja – Tipo na vida. E
isso é foda, porque eu nunca tive nenhum talento pra música.
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