A morte me parece muito mais doce
neste momento. Lhe explico.
Estou com o cano de uma pistola
dentro da minha boca e o com meu polegar no gatilho. Tomei alguns remédios, mas
tudo que me deram foi uma tremenda dor de estômago. Malditos suicidas que não deixam
essas partes claras pra gente que vai logo depois deles. Enfim, consegui essa
arma com um colega e até então só a tinha para futuros assaltos em minha residência,
que digo de passagem não tem nada de valor, então não sei bem porque peguei
esta maldita ferramenta de matar, talvez já premeditasse inconscientemente meu
fim.
Nunca pensei que fosse ser um
suicida, muito menos que aceitaria a ideia tão tranquilamente. Passei pelas
fases comuns de todos eles e cheguei ao estagio final, a falta de vontade de
viver. Como todos eles, também tenho um
motivo consideravelmente idiota para por cabo da minha vida e isso me dificulta
nesse momento, pois não quero ser lembrado como um idiota. Não deixei recado
nem liguei para ninguém, talvez deem minha falta daqui uns dias, quando meu
celular parar de receber as ligações e alguém pensar em algo pior, o que também
é difícil, pois nunca deixei pistas da minha atual situação.
“Então porque esta dizendo tudo
isso?” você deve estar se perguntado. Me faço a mesma pergunta. Não existe um
discurso especifico para o que vou fazer. Não há nada de heroico ou certo e
meus motivos não são melhores do que os dos milhões de outros que tomaram o
mesmo rumo que o meu. Não existe razão, amor, motivo, família, decepção ou
qualquer outra coisa que justifique tamanha atitude. Talvez a falta de motivo
seja um dos motivos, o que também não seria nada inédito, pois creio que a
maioria se vai com as mesmas ladainhas.
O que espero com tal atitude? Esquecimento.
O total e belo esquecimento. Aquele esquecimento que trás algumas lembranças na
mente das pessoas; “ele era tão bom” ou algo como “nunca vou esquecer de suas
piadas”. Talvez não tenha esse retorno, mas seria interessante se fosse o caso.
A vida tem sido um pandemônio sem fim, aboleto-me a ideia de que só é possível suportar
as dores da alma de uma vida “viva”, negando total realidade assertiva dos
males do mundo, e isso meu caro, é de ampla dificuldade para minha pessoa. Meu fim
não é melhor nem pior do que o de qualquer outro, é apenas um fim. Um bocado de
carne que vai parar de trabalhar incansavelmente para se manter respirando e
com saúde.
Enfim, tu que me ouves, de tudo
que tenho pra dizer quando se chega ao fim da vida é; não, toda sua vida não passa
na sua frente. O que é um tanto decepcionante já que queria relembrar alguns
momentos bons para que eu pudesse repensar minha atitude. No demais, não há nada
de mágico ou causa maior. É simplesmente o fim como deve ser. Vou agora, na
esperança que sirvam pelo menos Pães de Queijo em meu velório.
Celular vibra do meu lado; “Open Bar hoje, borá?!”
Droga, mortos não bebem. Largo a
arma na cama, pego a jaqueta e o celular; “To chegando. Hoje eu quero beber até
morrer”.
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