- Queria ter essa coragem – já estava
a algum tempo conversando com um desses hippies que ficam vendendo pulseiras na
rodoviária e a conversa se desenvolveu para além do produto de venda – largar tudo
e viver de boa.
- Largar tudo? – ele me perguntou simpático
ainda trançando um cordão.
- É. Minha vida uai.
Ele havia acabado de me falar
sobre sua vida até ali. Morava em uma casa de fundos numa cidade próxima e
tirava todo seu sustento do seu artesanato. “Eterno amante”, como ele mesmo
definiu, de outra moça que também compartilhava de seus gostos, os dois viviam
bem. Viajou boa parte do país para vender suas pulseiras e não precisava se
preocupar com a rotina frenética do mundo capitalista. Pretendia até o fim do
ano ter um filho e completar uma família.
- “Tudo” – ele deu um sorriso
maroto – mano, você estudou a vida toda até conseguir um emprego que lhe
fornecesse um dinheiro relativamente bom para comprar coisas relativamente boas
para te dar uma vida relativamente tranquila. Pega trânsito todos os dias, se
esgueira entre uma conta e outra para não deixar seu nome sujo pra não atrapalhar
a próxima compra dos sonhos e provavelmente trabalha em algum serviço que lhe
fornece um nível de estresse interessante. Não preciso te conhecer para falar
isso, enquanto eu falo, metade das pessoas que caminham entre a gente estão fazendo
exatamente a mesma coisa. Trabalhando, trabalhando, trabalhando. Formigas desesperadas
para alimentar sua rainha, seja lá quem ela for. Estabeleceram metas para dar
sentido a rotina absurdamente estranha que estão levando. Se formar, casar,
ficar rico, luxo, ser feliz, se vestir bem, dar orgulho para família, etc.
Todos com a mesma ideia; chegar ao final da vida e ter tranquilidade. – riu –
Deuses do tempo. Completamente certos que viverão para sempre e que a Vida ira
respeitar seus desejos lhe dando tempo para realizar todos os seus sonhos.
Amigo, eu que queria ter essa coragem de largar tudo e viver como vocês, mas sou
um completo covarde.
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