Em alguns estudos, a realidade
nunca foi apresentada diretamente ao ser. O mundo fenomênico como conhecemos é
uma ilusão traçada e criada pela percepção de nossos sentidos. Sendo assim,
toda informação traduzida do exterior para nossa mente – que contumazmente
mente – é um resquício de realidade deturpada fundida com nossas experiências passadas,
quiçá, futuras. Em resumo, tudo que vivo e absorvo dessa realidade, nada mais é
que um espelho embaçado e quebrado a duas milhas de distância no qual eu tento
identificar o reflexo de um desconhecido. E com essa percepção cientifica que
julgamos tudo e todos.
Dito isso, entendemos que a
construção racional baseada apenas em percepções externas, não vale esterco. Se
apenas uma baixa porcentagem de minhas ideias são firmadas em uma meia verdade,
de onde vem todo resto? Apenas de dentro.
Através de um conflito incessante,
afiamo-nos uns aos outros através de sentenças e certezas, sem saber que em
todo tempo falamos de nós. A convivência faz o outro se tornar carrasco de
nossa estabilidade. Tudo que te incomoda no outro dói porque a agulha vem de
dentro, e nem chega a sair, fica perfurando cada entranha de carne vermelha
dentro do peito.
Incapazes de aceitar, renegamos
diariamente nossos demônios e carimbamos o próximo com nossa ignorância. Julgamos
os bons, os maus, os certos e os errados, os belos e os feios e assim fugimos
de nossa responsabilidade, terceirando nossa culpa.
Você é um cuzão. O outro só te
revelou. Talvez o outro também seja, mas você nunca saberá por que o que se
pensa das atitudes alheias vai ser sempre o que se pensa de nossa própria atitude.
Como fugir então da mentira do julgamento inexperiente e infantil?
Não se foge, se redireciona. Entenda
que a existência do outro não pode ser moldada a sua e que as suas experiências,
sejam elas boas ou miseráveis, não podem ser usadas de padrão para o que é
certo ou errado. Julgar o outro pela nossa medida é aceitar que também podemos ser
julgados pelo peso do outro, e creia, o peso alheio é sempre injusto.
Quando Jesus disse “quem não tem
pecado que atire a primeira pedra”, a tradução origina deveria ser; Quem nunca
foi cuzão que de o primeiro tapa.
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