Entrei no elevador e saudei com educação o desconhecido que já
ocupava o espaço.
- Bom dia. Tudo bem?
- Não, não esta.
- Como? – esse tipo de resposta não é comum.
- Você perguntou se estou bem. Não, não estou. Ou essa só
foi mais uma pergunta ridícula para tentar ser educado?
- Não. Digo, sim. É que... – ele continuava tranquilo com
sua meia idade olhando os números mudarem acima da porta.
- Não se preocupe. Uma pergunta, duas intenções. Respondendo
de acordo com a primeira intenção, a de ser educado; Sim, tudo bem. Obrigado.
Respondendo a segunda intenção, a de realmente querer saber como um desconhecido
esta a passar a vida e se tudo esta tranquilo; Não, a vida é um inferno, o
diabo tirou férias e os demônios estão sem saber quais os turnos para me tirar
a paz e por consequência, me perturbam constantemente para garantir o serviço. Estou
em meia idade e ninguém me avisou que ser adulto se baseava em pagar boletos e
garantir que se tenha uma morte aparentemente tranquila com dinheiro suficiente
para poder se pagar um buraco no cemitério. Quando mais novo tive um grande
amor que nunca esqueci. Hoje ela esta casada com outro e não há um dia se quer
que isso não me aflija. A noite, minha mente se acende como um farol me
privando de um bom e velho sono, garantindo assim minha incapacidade de
realizar tarefas diurnas fazendo com que eu perdesse meu emprego por ser
incapaz de entregar relatórios. O emprego era uma bosta, mas agora não sei de
onde vou tirar dinheiro para pagar o buraco de minha morte. Minha única companhia
era um cão que faleceu faz três dias de tão velho que era e tive que joga-lo na
lixeira porque não existe um terreno baldio nessa maldita cidade onde eu pudesse
enterrá-lo. Quinze anos de amizade e no fim o joguei na lixeira. – o elevador
parou – Esse é meu andar. Tomara que o lixeiro passe quando eu morrer. Bom dia.
Saiu dando espaço para uma senhora entrar.
- Bom dia. Tudo bem? – me perguntou.
Fingi que não ouvi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário