- “Vai tomar no olho do seu cu filho da puta.”
- Porque ela disse disso isso? – perguntou meu ouvinte de
bar desconhecido.
- Isso foi o que ouvi, o que ela disse mesmo foi muito mais
cruel. Tivemos um caso um pouco conturbado.
- Mas o que ela disse de verdade então?
- Algo pior que adjetivos ofensivos – um gole na cerveja que
acho que já era a sétima ou oitava – ela falou sobre por que estava me
abandonando.
- Foi tão ruim assim?
- Meu caro, algumas coisas são perfeitas. Um dia desses
parei em uma via para observar dois prédios lado a lado. Perfeitamente paralelos.
Havia uma pequena brecha entre eles. Se alguém conseguisse continuar a
construir e a subir, eles ficariam eternamente em linha reta. Assim também são alguns
dos melhores amores. São perfeitos, se encaixam lado a lado como um algo
sobrenatural. Se alinham, e despertam fascínio. Porem, alguns estão destinados
a nunca se encontrarem. Irão perecer eternamente lado a lado. Vendo a vida do
outro passar e seus acontecimentos ir. Irão se arrepender de tantas coisas que
poderiam ter feito para ser diferente, mas no final, tudo não será o bastante –
faço sinal querendo mais um copo – Todos os dias passo ao lado desse prédio desgraçado.
Fico pensando quais dos dois sou eu.
- Mas não tem como voltar pra ela?
- Me desculpe o riso malicioso – não pude segurar – mas se
houvesse quaisquer chance eu não estaria aqui. Quando o afeto e vontade se
acabam, algumas pessoas simplesmente te apagam da vida. Você existe, mas não passa
disso. É mais um numero, historia, talvez um conto curto.
- Mas isso passa, daqui uns dias já esta em outra.
- Vejo que ainda é muito novo, de corpo e mente. Em outra
vou estar com certeza. Talvez dormir com algumas mulheres, beijar outras bocas,
abraçar outros abraços. Mas o dela, nunca vou encontrar novamente. Irei cair no
mesmo ciclo de tristeza e desamores de sempre. Aquele ciclo que você passa a
vida toda correndo atrás de alguém e nunca acha. No meu caso por que achei e se
foi. Não tenho mais essa esperança, a consciência disso é o motivo de estar
aqui hoje falando com você, desculpa, mas qual seu nome mesmo?
- Marcio Martins.
- Então amigo, saber disso tudo que me faz estar nesta condição
pútrida que me observa hoje.
- Uma pena.
- Enfim, como tudo na vida, alguma hora se finda. Já aceitei
a dor de passar os resto dos meus dias padecendo com minha condição. Muito
obrigado por me ouvir amigo – Chamo o garçon – Doutor, traga mais uma para mim
e para meu colega aqui.
- Que colega? – questiona o barman
Olho para o lado e vejo uma cadeira vazia.
- Acho que o álcool tomou conta de mim – dou uma risada –
ele deve ter ido no banheiro e nem vi.
- Senhor – insiste o garcon – o senhor esta bebendo no bar
sozinho faz uma hora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário