Aquele ano foi um pouco difícil. Mas, qual não foi?
Me lembro de uma época que era necessário baixar vários aplicativos
num desktop enorme com pouca memoria e uma internet discada que caía ao menor
soprar de ondas telefônicas, só pra poder baixar aquele álbum maravilhoso do
seu artista favorito. A gente mudava a aparência do programa. Hoje o aplicativo
musical do celular me arrasta pra uma imensidão musical gratuita. Gratuita
porque uso a conta de um amigo, mas afinal, quem não usa a conta do amigo?
O carnaval foi intenso e o país ainda vibrava, nessa terra o
ano começa depois do carnaval. E começou mesmo. De repente uma minoria morta em
algum país por causa de uma idiotice humana – sempre é – era preocupação interplanetária.
Por que se você pensar bem, nessa geração a seleção natural beneficia apenas os
melhores afortunados, ao restante sobrou o risco de vida e morte diário saindo
nas ruas. Elas gritavam por comida, direitos, trabalho, liberdade, ganancia. Eles
derrubaram estatuas, destruíram lojas, mataram pessoas. A Africa, já sem saber
o que é ter um minuto de paz em seu solo, como uma escrava abusada e maltratada
pelo seus próprios filhos, potencializou seus abortos na guerra com milhares de
vitimas inocentes que nunca sequer ouviram falar sobre como os bitcoins podem
transformar a vida delas e de suas famílias ou como o mercado de soja se
comportou com a crise das pragas que nos atacaram com tanta eficácia. Na verdade,
tudo nos atacou com eficácia. Em todo mundo governos passavam por crises
financeiras e protestos sem fim. Teve terremoto na Korea, liberação da canabis
no Libano e o Brasil parecia um seriado americano onde a politica facilmente se
encaixaria nas cenas onde as palmas e os risos aparecem a cada piada sem graça
e você fica tipo “que?!”. Ai não sabe se deixa ou se tira porque é muito ruim
mas quer dar mais uma chance porque você acredita no potencial dos artistas.
A Nasa se uniu a uma empresa privada e conseguiu mandar um
pedaço de lata com pedaços de carne para o espaço para que eles possam viver
dentro de outra lata e de lá, longe de tudo e ainda sim mais perto do que
qualquer planeta, eles mandem noticias do “universo”. São quase quinze mil anos
de homo sapien e a gente ainda solta pipa de satélite pelo céu.
O mundo ruía entre crises climáticas e bombas de gás. Quarentena,
relações intensas. Corpos espalhados e bombas econômicas que defenestraram
milhares na pobreza e crimes.
Enfim, aquele ano foi um pouco difícil. Então se me
perguntar onde eu estava no aniversario do ano passado, eu diria que fodido. Quem
não estava? Faz parte. Mas se eu pudesse voltar la atrás, e por um breve
instante poder olhar nos meus olhos, diria; Lava a louça, faz teu corre e rega
tuas plantas, o Tempo respeita quem corre com ele.
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