Era fim de carnaval. O açaí manchava sua boca de um roxo
escuro enquanto ela falava. Contava suas aventuras do final de semana e
segredos de sua cidade pequena, ele imaginava pelo menos. Não a ouvia bem, o
vento soprava contra ele trazendo aquele perfume que a tempos atrás ainda
estava na sua camiseta que ela usava para dormir. Um tipo de droga viciante que
lhe havia feito andar tantos quilômetros apenas para vê-la. Despercebida ele a
observava tranquilo, sem medo. Foram dias
turbulentos, uma guerra jamais travada. Naquele momento havia paz, uma paz
estranha e que a muito ele não sentia. Ela ria, conversava, falava e discutia
com seus outros amigos. Ele só ouvia e esperava a próxima soprada do vento já que
não podia mais cheirar seu pescoço como sempre fazia quando a abraçava por trás.
O açaí tinha acabado, mas sua boca ainda salivava. O vento soprou novamente,
cada brisa trazia consigo uma memória dos dois. O perfume entrava pelas suas
narinas ate seu coração como gasolina em motor. Sangue pra tubarão.
Saíram dali para uma volta, dois estranhos e um perfume que se
materializava no carro. Já estava ficando tarde. O tempo sempre foi um carrasco,
agora mais que nunca. Ela falava da vida com tamanha liberdade de espírito e
ele não queria nada, apenas ouvir cada historia aproveitando aquele
momento. Sabia que não ia durar. Subitamente
ele vê caindo uma dádiva dos céus, uma estrela cadente. Ele a interrompe
apontando desesperado e pedindo para que ela fizesse um pedido rápido. Na inocência
de uma criança ela põe a mão no rosto, fecha os olhos e começa a pensar no que
pedir para aquele corpo celeste. Ele, olhando aquela cena admirava cada curva
de seu rosto, ficou em silencio dando tempo para não atrapalhar aquela estrela
sentada ao seu lado. Ela confabulava algo em sua mente e ele já havia feito seu
pedido em silencio repetidas vezes para que os céus não se fizessem de surdos.
Na porta de casa, um ultimo abraço. Uma respirada forte para
poder puxar o máximo do seu perfume e um adeus. Ela se foi, talvez agora pra
sempre. A porta do carro se fecha, ela some nas sombras e ele ao olhar pro céu,
reza para estrela que mais cedo caiu; Ouça novamente meu lamento, dei-me ela!
Um comentário:
sobre pandas e desilusoes...
Postar um comentário