Porque Jó teve que sofrer tanto? A narrativa da história de Jó sempre me deixou incógnitas.
Dois seres celestiais fazem uma aposta e decidem punir um homem do qual eles fazem questão de dizer que é o melhor homem da face da terra. Após doenças, mortes, tragédias, discursões, perdas materiais, brigas com amigos e família, crises existenciais, iras descontroladas e uma infinidade de boletos não pagos, ele se depara com o vencedor da aposta, que na ocasião não lhe responde nenhuma de suas perguntas, e mesmo assim o obriga a aceitar essa realidade completamente desconexa sem reclamar. Depois disso ele recebe tudo em dobro e o prazer de ter mais quatro gerações.Ele não tinha culpa de nada, levou a pancada e não fazia ideia do que estava acontecendo.
O que se passava na
cabeça de Jó?
Em todos os seus diálogos as questões
de Jó fazem total sentido, quando a gente sabe o que está acontecendo por trás
de tudo, mas na perspectiva real, as coisas estavam muito mais fora do alcance.
Alguns fazem questão de lembrar que ele teve o dobro de filhos, mas e os que
morreram? Uma aposta cruel que proibiu um homem até de morrer.
Porque os deuses continuam jogando
conosco? Coisas acontecem sem sentido, regras e caminhos que seguimos sem
destino. Surras diárias de vida com ferrolhos violentos e pesarosos. Pessoas
que amamos morrem e a gente se pergunta: Porque? A vida gira incansavelmente e
as coisas acontecem num compasso de escolhas e consequências. Coisas
aparentemente boas, outras falsamente ruins e experiências que se em algum
momento tivéssemos a escolha de não passar, não sofreríamos tamanho achaque.
Como seria se tivéssemos controle de nossas vidas? O que fazer quando nem mesmo
sendo a melhor pessoa que você acha que pode ser, a vida vem e te dá uma
rasteira violenta e sem sentido?
Esse ano com certeza me fez entender melhor o Livro de Jó. E tenho certeza que outras quase oito bilhões de pessoas também. Todos os dias ganhamos ou perdemos sem saber se é sorte ou habilidade, força de vontade ou dinheiro. Bilhões de almas desesperadas lutando pela sua sobrevivência e felicidade, e a maior parte está mais pra Jó do que pra Davi, “alguém segundo o coração de deus”. Uma raça inteira nas mãos do Grande Ser Supremo, seja lá qual for seu nome.
Se tem uma coisa que aprendi nesse apocalipse existencial é
que nem sempre as coisas vão fazer sentido, e na maioria das vezes não fazem
mesmo. Só nos sobra aceitar, agradecer e continuar a luta, e se a ferida doer
tem caco de telha pra ajudar a coçar.
Jó é um dos poucos livros que
respeito na bíblia, mas com certeza é um dos mais sábios.
“Nu eu vim e Nu eu voltarei”, uma espécie
de “Foda-se” que traduz bem a essência do livro. No final, tudo vai passar e a
nossa única certeza é que a morte já esta literalmente a pairar no ar.
Desejo sorte aos jogadores e torço
para que seus deuses sejam bons em apostas.
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