- Foi pelo sorriso. Aquele do canto
da boca de poucos milésimos de segundos. Aquele de culpa e graciosidade, que a gente esconde por medo do pecado. Ela não
pediu, mas desejou. Duvidou querendo que fosse verdade. Ela gostava da dor, não
dela, do outro. Por isso aquele sorriso foi tão importante. Mistura de demonio e
ingenuidade.
- O senhor matou o indivíduo,
nunca mais vai vê-la, perdeu sua vida e fez tudo isso por um sorriso?
- Não um sorriso qualquer. Era o
dela. Nós dois sabíamos o valor que aquilo tinha. E algumas coisas você só tem
uma chance de provar na vida. Eu não pude deixar a oportunidade passar.
- Está dizendo que ela desejou que
matasse alguém só pra você provar que faria de tudo por ela?
- Jamais. Desaprovaria como
desaprovou. Não se deve violentar ninguém sem consenso. Ela apenas desejou. E isso
pra mim sempre foi o suficiente. Sinto muito pelos envolvidos, mas ela tinha as
chaves de meus calabouços. Não me arrependo e sei que por alguns milésimos de
segundos, ela deu aquele sorriso e que lá no fundo, oculto até de sua própria aceitação,
ela lembrou que fiz aquilo apenas para entregar aquele último pedido; minha
alma nua e completamente insana. Foi um presente meus caros. A violência racional
é um tesouro raro e o meu dei a ela. E
meus amigos, se vocês tivessem sentido aquele sorriso, fariam absurdos ainda
maiores.
- Ok. Já chega. O senhor será
eletrocutado nesse exato momento por assassinato seguindo as normas de pena de morte de nosso
país. Algum último pedido?
- Sim; diga a ela que eu senti.
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