- Não sei
como você aguenta tomar café sem açúcar – como de costume eu e meu amigo
tomávamos café na mesma padaria todas as manhãs.
- É questão
de adaptação – tomou seu gole.
- E porque
eu me adaptaria com algo amargo?
- No começo
é ruim mesmo, mas depois que o doce sai o café de verdade fica.
- Café de
verdade? – tive que rir – Mano, é só café.
- Sabe qual
o problema do doce? – perguntou com seu jeito tranquilo de sempre – Ele é doce,
é bom e da uma coisa boa, um sentimento de satisfação. Ele maquia a realidade e
nos da o que queremos. Algumas marcas de café dão um amargo no final, outras
são bem suaves e mais algumas são simplesmente indiferentes. Você nunca saberá
discernir uma de outra, porque o açúcar é aquele amigo falso que finge que
gosta de você, mas na verdade não tem coragem de te mostrar a realidade.
- Esta
falando que tenho medo da realidade?
- Estou
falando de café. Interprete como quiser. O amargo sempre vai ser mais intenso
que o doce. Você nunca vai ver alguém traumatizado porque foi muito amado e
hoje precisa de ajuda psicológica pois sempre teve todo amor do mundo. A dor
abre seus olhos e revela o que é bom de verdade do que é apenas ilusão. O
problema é que o prazo de adaptação pra aceitar o amargo das coisas é péssimo e
longo, poucas pessoas estão dispostas a goles de café tão amargos em manhãs tão
brilhantes e preferem doses doces pois são mais confortáveis – tomou o resto
do café e colocou a xícara na mesa – vamos, já estamos atrasados.
- Vamos sim,
só uma ultima pergunta – levantamos e saindo paramos na porta da padaria – você
esta lembrando que trabalha em uma fábrica de açúcar certo?! – meu sarcasmo era
claro.
- Evidente
que sim.
- E não gosta
de açúcar no café?
- Meu amigo,
do açúcar eu já provei todo seu amargor – ajeitou sua jaqueta e virou-se indo
embora ainda falando – você que nunca provou o doce da amargura.
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