Acabou. Ele estava preso já fazia algum tempo e os favores que o guarda
realizava findavam naquele dia. Seu ultimo pedido foi um papel e uma caneta.
Durante sua
estadia naquela cela escura e úmida, ele já havia enviado oito cartas para seu
amor que, talvez, o esperava lá fora. Duvidava muito disso. Já sentia o
sentimento de fim, da solidão eterna e que seu lamento jamais seria ouvido.
Sentou em sua cama de ferro barulhento com parafusos faltando e ficou
olhando para aquele papel em branco, pensando no que mais poderia dizer. Silencio
apenas isso pairava em sua mente. Não havia mais explicações, ele sabia que
qualquer coisa que colocasse ali não valeria de nada. Ele a amava mas a falta
de noticias sobre suas cartas anteriores o fizeram perceber que ela já não estava
mais lá. Era o fim, sua caminhada terminava ali.
Dobrou o papel em quatro partes, levantou-se e chamou o guarda da
janela da porta com um pouco mais que dez centímetros;
- Chefe!
- Diga vinte
e nove – seu numero de cela.
- Tome. Muito
obrigado pelo favor – e passou o papel pela janela.
- Mesmo destinatário?
- Qual foi
minha sentença meso Chefe? – perguntou se distanciando da porta e indo em direção
a janela gradeada e pequena de onde podia se ver uma lua crescente.
- Perpétua
vinte e nove. Porque pergunta se já sabe a resposta? – o guarda olhava curioso
pela janelinha.
- Sou um
homem morte Chefe, condenado aqui para sofrer em completa solidão. Homens
mortos não escrevem cartas e nem recebem. Não existe destinatário, assim como não
existe remetente.
- Se não quer
que eu mande a carta, por que me devolveu? – já olhando para papel desconfiado.
- Sou um
homem morto Chefe, fala com os mortos agora? – falava tranquilo olhando a lua.
O guarda balançou sua cabeça com desdém e saiu em direção da porta de
saída no fim do corredor. No meio do caminho da meia volta um pouco indignado
lembrando que a caneta ainda estava na cela.
- Vinte e
nove, esqueceu a caneta – não teve resposta.
Se aproximou e olhou rápido pela janela já nervoso pronto para alterar
a voz quando o susto tomou seu corpo. Meteu a mão no bolso rápido e desesperado
gritando para os outros guardas correrem para dar suporte enquanto abria a
porta e entrava num salto.
Lá estava o presidiário, estirado no chão em meio ao sangue escarlate
brilhante que ainda escorria de seu peito e uma caneta fincada na altura do seu
coração. Seus olhos ainda estavam abertos e serenos como se quisesse ver a lua
ate seu ultimo momento. O guarda congelado com a cena, confuso com tudo
aquilo percebeu que o papel ainda estava em sua mão agora suada. Desfez as
dobras devagar e leu seu epitáfio;
“Melhor seria morrer de amor
Do que fingir
A inexistência
Desta maldita dor.”
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