- Diga seu nome e
idade.
- Eduardo…
- Olhando pra câmera
por favor.
- Eduardo Santana,
33 anos.
- Por favor, peço
que não se mova muito ao falar – ruido do zoom da câmera – essa
luz aqui vai acender e após minha apresentação peço que repita
seu nome, idade e pode começar. - Luz vermelha – Sanatório
Nacional de Brasília. Vinte e um do seis de mil novecentos e setenta
e oito. Paciente zero, quatro, três.
- Eduardo Santana,
33 anos – respiração profunda – eu não sei como cheguei aqui…
- Por favor, só
comece.
- Ok.
“Eu não me
considero alguém especial. Minha casa era de telha ruim onde chovia
gotas sem fim em panelas velhas de alumínio que ficavam espalhadas
pelo lar. Talvez esse seja o melhor resumo sobre minha vida. Gotas
sem fim e panelas barulhentas espalhadas por todo lado. Não melhor
que uns nem pior que outros. Apenas mais um. Algumas pessoas não
entendem porque fiz, o que fiz – pausa – eu tenho certa
dificuldade em entender elas. Na verdade eu tenho dificuldade de
entender muita coisa. Umas eu desisti, e as demais são inúteis
demais para ocupar meus pensamentos. Acredito que é isso que
acontece aqui. Uma das leis não descobertas ainda é a Lei do
Foda-se. O fato de algumas coisas estarem tão obvias e não serem
resolvidas me obriga a pensar que os responsáveis por isso, tem
total incapacidade braçal e mental pra entender a facilidade e
urgência de alguns casos. Se utilizando assim da Lei básica do
Foda-se. Eu não to nem aí, é irrelevante, foda-se. Temos casos
muito simples. Tipo, porque ainda somos animais desesperados pelo
poder? Se a redistribuição da renda mundial facilitaria de fato a
solução social, politica e mundial de uma boa parte da humanidade,
porque de fato não fazemos? Porque mesmo tendo consciência dos maus
da religião e de todo o resto dessa conversa espiritualística,
ainda fazemos o que fazemos? Nós matamos, exploramos, humilhamos,
invadimos e estupramos culturas e espécies inteiras mesmo com as
vistas na verdadeira solução. É doença e guerra civil pra dar com
pau. Abuso de minorias e perseguições absurdamente criativas. Todos
problemas de fácil solução. Digo fácil, mas não rápido. E é ai
que a gente se perde. Quem quer esperar tanto tempo? Quem quer
arriscar perder quando se joga com a segurança financeira, psíquica
e social? Dividamos as terras, distribuímos racionalmente o
dinheiro, ajudemos os órfãos e imigrantes, sejamos capitalistas de
fato. Um capitalismo onde se pode consumir, não mais como
gafanhotos, e sim como abelhas ou formigas. Sei lá. A imaturidade
dessa estrutura egocêntrica é espelho das engrenagens minúsculas
que fazem ele continuar atrasado como está. Imaturidade essa
fortalecida pela construção genética de sobrevivência, que
desperta a essência de todo esse mal; a ganância desenfreada e o
exagerado medo da morte. Nosso mundo nada mais é do que reflexo de
seres humanos com sérios distúrbios mentais. Um freudiano culparia
a paternidade ausente, um marxista a família falida, um deísta a
ausência divina e eu só acho burrice mesmo. Olhar todas as crises
globais é basicamente a mesma coisa que olhar para as micro crises
pessoais. Indivíduos estranhante desequilibrados e carregados de
pensamentos e construções impostas por sua realidade cega. Cega
pois também causamos e mantemos conflitos desnecessários dentro de
nossas minúsculas bolhas sociais. Problemas que podem ser resolvidos
com a verdade, bem dita e sem interferenciais ridículas herdadas por
acontecimentos que já deixaram de ser relevantes. Relacionamentos
abusivos entre amantes, parentes, amigos e vizinhos. Desrespeito com
as escolhas de sexo, crença ou a porra de um time de futebol.
Olhares tortos para a especie que escolheu outro do mesmo sexo para
dividir risos e orgasmos eternos. Mini guerras civis travadas entre
amigos e famílias que discordaram de pequenos detalhes da vida,
causando um pandemônio sem fim de traumas e culpa. Um jogo de
responsabilidades onde o outro que é sempre causador das dores da
minha alma e ditador de meus sentimentos. São todos idiotas. Porque
não param? O que pode ser maior do que o sacrifício pela paz?
Sacrificar o ego, as certezas e tudo isso que cultivamos com tanto
carinho durante todos esses irrelevantes anos de nossas vidas, é tão
apocalíptico assim? É onde digo que algumas coisas eu não entendo.
A burocracia politica invadiu nossos corações. São oficios demais
para serem preenchidos e quem nos atende é um funcionário do
governo puto com seu serviço de merda. Então é isso, se me
perguntarem porque matei todas aquelas pessoas a resposta seria essa;
não tenho paciência pra gente burra. O fato de odiar goteiras
também me prejudica”
Nenhum comentário:
Postar um comentário