Quando minha mãe morreu fiquei
seis meses de luto sem saber. Hoje eu sei disso.
A morte é diretamente triste. O fim
por si só já é difícil, pior ainda é lidar com algo que nunca mais vamos ter de
volta. Esse é o dilema da saudade de quem perdemos pra sempre.
O luto é algo que ainda é motivo de
estudo e muito mal compreendido por muitas pessoas. O que dizer ou fazer depois
da morte de alguém bem quisto, existe alguma formula pra isso? Alguns concordam
que não, mas uma coisa é certa; nem a resposta correta seria a solução.
A dor de quem fica é algo que entra
naquele padrão de “não consigo explicar”, literalmente. Nunca conheci sinais linguísticos
que traduzam a magnitude da rasteira da vida. Minha única explicação é a comparação
com uma dor de dente. Sabe aquela dor que só dói quando você lembra? Então. Está
lá, tem algo errado, seu corpo já aceitou aquele incomodo natural mas as vezes
dói. E dói bastante, acredite. Uma pena não existirem dentistas da alma.
Pior do que ter percebido meu
inconsciente semestral, foi ter que assumir isso, “Não acredito que cai nessa”.
Como falei, difícil explicar, mas a morte me deu um tiro na testa e após um
longo tempo voltei dos mortos sem entender nem saber o que tinha acontecido
direito. Falei e fiz coisas que talvez não faria em sã capacidade mental. Talvez
o instinto de sobreviver me fez levantar e deitar durante esses dias. A responsabilidade
de filhos, empresa, família, amigos ajudaram na labuta diária, talvez eu
demorasse mais tempo para perceber isso sem esses fatores cotidianos.
Após minha experiência trágica,
consegui sangrar com os que passam do mesmo mal. Descobri que não existe
palavra que ajude, não existe explicação, não existe motivo, não existe cura, não
existe uma pessoa se quer que possa solucionar a grande questão do adeus.
Aos que (ainda) não passaram por
esse caminho, desejo-lhes força, inteligência e um pouco de humor para o grande
dia. Aos outros desgraçados por esse privilegio, lamento. Sofram, não há outro
caminho. Morram e sintam esse buraco enorme que ficou ai dentro. Coloque aquela
música que lembra, cheire as roupas, escreva cartas, saia sozinho, chore com os
amigos e desacredite de possibilidades de futuro. Se a dor de morte dói, deixa
doer, não existe outro caminho. Infelizmente não há discurso que nos livre
disso. Mas se posso contribuir na sua caminhada, lhe aconselho; aceite.
Nós já nascemos morrendo. O tempo
conta nossos méritos, julga quando quer tirar nossas conquistas e não há nada
que se possa fazer além de aceitar. Sei que é difícil meu amigo, te entendo,
mas acredite, parar agora é desperdício de vida e antecipação de morte. Ninguém
nos ensina a dizer adeus, e quando isso acontece fica difícil de lidar. É cansativo
e doloroso o caminho do luto, mas não pare de se mover.
Prometeu foi um titã na mitologia
grega que foi condenado pelos deuses a ficar acorrentado em uma pedra tendo seu
fígado comido por uma águia todos os dias, e todos os dias seu órgão era
regenerado para um novo banquete. A morte traz essa condenação, dor eterna sem
possibilidade de livramento. Acorrentados e incapazes só nos resta sentir as
dores na carne e lamentar. Eu gostaria de terminar aqui com uma frase legal que
te ajudasse a caminhar, mas só posso te dizer que quando você parar de sofrer,
a saudade vai tomar esse lugar, e ainda que dolorida, será muito mais
reconfortante. Isso é viver, escolher a dor que se quer sentir. Escolha aquela
que combina mais com você.
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