Existe uma certa tristeza em todo escritor.
Não se é possível interpretar o mundo sem um certo ar de solidão.
Um bom poeta é um exímio solitário. A capacidade do artista em alcançar as emoções
dos atentos não está na beleza de sua criação, mas sim na profundidade de sua
dor. A tradução de um sentimento é proporcionalmente difícil a intepretação de
uma língua oculta. Não basta escrever como as nuvens são leves ou as rosas
perfumadas, uma boa e verdadeira arte traz consigo um ar gélido de solidão. Acalentam-se
os ouvintes nas poltronas enquanto um pobre coitado reproduz aquilo que ele
carrega em mente e alma com uma intensidade satânica de dor. Seja na música,
poesia, filmes, pinturas ou qualquer outra transcendência. Toda arte é triste. Os
quadros representam saudades e as canções fins trágicos. Até as expressões aparentemente
felizes são interpretações hostis de desespero por algo melhor.
Engana-se quem acha que o bom artista é um bom vivente. Ao artista,
viver é um desaforo universal. Desesperar-se na necessidade de explosão através
de um vulto rápido de expressão poética é um litigio e um bênção. Ao escritor então,
a pior das tarefas.
Ao escritor faltam pincéis, plumas, desenhos, fotos e canções.
Á patuleia, resta a escrita, essa que nem quando se quer dizer, consegue dizer.
Cansativamente, o desinteresse público e seu seletivo trabalho ao escrever os
tornam cirurgiões de sentimentos. Ao pintor, a tinta para dar cor aos seus
devaneios. Ao musico, as melodias mantras para suas hipnoses. E ao escritor,
que ferramenta afia sua ideia? Pois a escrita por si só não gera comoção. Ao coitado
resta tentar desenhar suas fotos na mente de cada olhar tranquilo, e com sua própria
voz em seus ouvidos, recria personagens e paraísos lidos em um papel com
palavras desorganizadamente ajeitadas em um samba de pausas e sons.
Indiscutivelmente, o escritor vaga num universo de impossibilidades
de tradução, quando nem um parágrafo consegue explicar as sensações de um dia
comum. A esses dou o meu lamento. Sofram, párias. Talvez assim essa
infelicidade que lhes transbordam, encantem pequenos oculares, quiçá, sejam até
entendidos.