"a arte de conquistar, manter e exercer o poder, o governo". Assim que Maquiavel definiu política.
Desde seu nascimento na Grécia, a intenção da política foi sempre ouvir
determinados grupos que defendiam seus ideais e desejos através da escolha de
seus representantes. Se eu gostava de azul, montava um grupo com uma galera que
gosta de azul, escolhia quem era melhor de dialética pra defender o azul e
depois ia todo mundo lá dizer que o grande deputado azul era a o cidadão perfeito
para defender os direitos do grupo e da nação. Sim, a democracia também nasceu
na Grécia. E a tradução da palavra é GOVERNO DO POVO (Poder do Povo, pra
facilitar). E assim segue o fluxo. Eu tenho princípios e acredito em
determinadas coisas. Se não for eu, escolho alguém que represente bem meu
papel, depois, através do meu direito democrático de escolher alguém para me
representar, voto no meu indivíduo e aprecio a beleza de ter um Estado
comandado por alguém que acredita na maioria dos meus conceitos ou me contento
com a derrota sabendo que o outro cidadão teve mais votos por que um grupo
maior acreditava nele. Depois disso a máquina do Estado continua rodando sob o
comando do eleito preferido e seus seguidores e apoiadores. Isso é a política
simples sem dificuldades.
Seria lindo.
Eu, como a maioria, resisto a conflitos desnecessários e cansativos
discursões que são meramente religiosas e na maioria das vezes, inútil. Mas
exerço aqui o mesmo direito democrático fixado em vossas mentes. Sabendo que a
política é um jogo de poder e representação, me alieno da obrigação de escolher
um candidato que foge dos meus princípios morais, reais e imutáveis e decido
não apoiar quem não condiz com minhas verdadeiras motivações. Votar em
alguém que não tem possiblidade de ser eleito mas que condiz com minhas ideias,
é uma das únicas demonstrações de política possível e real. Ali fica o
simbolismo da ideologia e das vontades de uma nação ou grupo de pessoas. Se em
algum momento, o voto foi para quem tinha mais chances de derrubar seu
adversário, parabéns, você ainda não entendeu a política e acaba de trair seu
próprio destino.
“O voto é individual e secreto. A escolha é sua. Pense bem, avalie
os candidatos e exerça seu direito”. Estas são as frases às quais se agarra o
senso comum e também o senso institucional, como a última tábua da salvação da
consciência de cada indivíduo. O presidente não será ou deixará de ser
eleito por causa de um voto a mais ou a menos. Ou seja, meu voto não faz
diferença – embora o discurso da moralidade social não o admita. Ao contrário
do que afirma o pseudo-individualismo, o voto é social, e não individual. O
voto só cumpre sua função social quando inserido numa ação coletiva. Nessa
perspectiva, são as massas que sustentam o Estado Democrático de Direito, e não
os indivíduos. Assim, o voto será tanto mais consciente e efetivo quanto mais
aglutinador de forças coletivas, se constituindo num vetor das potências
sociais. Foi assim, por exemplo, que um ex-operário tornou-se presidente do
Brasil.
Entretanto, alcançado este status, surge todo tipo de reação
negativa – falta consciência de classe, o país é de mentalidade
subdesenvolvida, a mídia controla e comanda a política, os políticos são
corruptos, os eleitores são irresponsáveis, o povo tem memória curta, o poder
sempre estará com os endinheirados, eu não gosto de política, os trabalhadores
estão desmotivados, o contexto histórico não é propício, as pessoas são
individualistas, as massas são alienadas, bla, bla, bla. O poço das
justificativas é infinito. E, ao fim, volta-se ao slogan: “exerça seu
direito com consciência!”. O poço da hipocrisia e da falta de coragem é
infinito. Embora muitas das justificativas sejam coerentes e consequentes, é
evidente que alguns aspectos estão sendo negligenciados.
Brasil e mundo afora, devem existir outros tantos indivíduos, encaixados
ou não em modelos, que tenham relações sociais fracas – uns admitindo, outros
não; uns percebendo, outros não; uns conformados, outros não. O que importa
aqui é o que diz respeito à participação política, mais especificamente na via
eleitoral. Sendo o voto social, é evidente que para esses indivíduos o voto não
cumpre sua função. São pessoas sem qualquer influência coletiva e, geralmente,
distantes das influências sociais. Por certo que não sou um átomo – basta
observar que dependo de muitas forças sociais para comer, por exemplo – mas
também não participo da vida de gado, sou incapaz de convencer ou de ser
convencido de tal ou qual opção de voto. E, repito, voto que não se insere em determinada
força social não tem qualquer sentido.
Esta é a minha própria alienação, e de outros, certamente, mas vejo que
a maioria está submetida à face oposta da mesma moeda. Alienação de rebanho,
manipulável e suscetível (à propaganda, às lideranças, ao senso comum, à
opinião do vizinho, à mídia, ao discurso técnico-científico, às pesquisas, à
opinião pública. Esta é a miséria do caráter social do voto, embora não deixe
de ser exuberante a força coletiva que o anima.
Se a política é a arte do exercício de poder de influência de grupos
sobre a massa, por que é que continuam a convocar os indivíduos às eleições?
Primeiro, que existe de fato um fenômeno social que carrega pessoas à
parte de todo e qualquer senso de identificação e ação coletivas. Efeito manada.
Segundo, que tais pessoas podem duvidar, rejeitar e combater todas as
permanentes pressões sociais que tentam enquadrá-las, arrebanhá-las, seduzi-las
e justificá-las em nome de bandeiras, slogans, grupos, instituições ou
coletividades que fazem sentido apenas para rebanhos.
Terceiro, que para os indivíduos, peso na consciência e apelos morais
não justificam voto. Um rebanho de vacas pode ser mais atraente do que um
rebanho suíno, mas ainda é rebanho.
Quarto, que a resposta mais adequada ao voto compulsório é o voto nulo.
Pois a condição primeira para o combate à alienação é o próprio reconhecimento
radical de sua existência. A demonstração de insatisfação, única possível até
agora, que poderá começar a sinalizar a insatisfação com o status quo.
Ausência-de-si! Esta é a verdadeira palavra de ordem da sociedade,
principalmente em tempos de eleições. Intelectuais votando em prol de
operários, operários em prol de burgueses ressentidos, burgueses ressentidos em
prol de ambientalistas, ambientalistas em prol de empresários, empresários em
prol de cristãos, cristãos em prol de democratas, democratas em prol de
trabalhadores, trabalhadores em prol de pseudo-radicais, pseudo-radicais em
prol de miseráveis, miseráveis em prol deles mesmos, e eles mesmos em prol da máquina
político-partidária! E por ai vai.
Vislumbrando essa pequena parte do processo político e seus princípios,
me abstenho de aceitar qualquer tipo de opressão feita a minha obrigação de
eleger alguém (incluo a pessoa jurídica do partido) que represente realmente os
ideais em qual acredito. Não iludido, mas como um touro em guerra, recuso
aceitar minha aniquilação moral e social.
E por fim, de todo modo, apoio e defendo todos os direitos e deveres
daqueles que ativamente participam desse jogo espetacularmente manipulado e
hipócrita do qual, em sua grande maioria, são alienados lindamente disfarçados
de pseudos-entendidos políticos. Sem dúvida nenhuma, não sou a maior autoridade
política, mas sou presidente de minhas ações e governante de minhas vontades. E
por agora, nenhum candidato é realmente bom para minha Política.
Se, na sua mente, não votar é aceitar que alguém tome suas decisões,
votar é pedir que ela faça o que quiser com você. Um estupro político
ideológico. E me desculpem, mas isso não representa minha vida, minhas ideias e
muito menos meu Povo.
“Naquela época meu instinto decidiu-se de maneira inexorável contra a continuação da condescendência, do seguir-aos outros, do enganar-a-mim-mesmo. Qualquer modo de vida, as condições mais desfavoráveis, enfermidade, pobreza – tudo me parecia preferível àquela ‘ausência de si’ indigna à qual eu me entregara por ignorância, por juventude, e na qual eu acabara ficando pendurado mais tarde por preguiça, devido ao assim chamado ‘sentimento do dever’.”
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