- Desculpe, mas acredito que não entendemos.
- Qual parte?
- Basicamente, tudo.
A sede da ONU estava um alvoroço
desde que os seres de outro planeta chegaram com suas espaçonaves invadindo os céus.
De início acreditava-se ser uma invasão, mas aos poucos os diálogos foram se
alinhando e os motivos da visita foram ficando claros. Neste momento as maiores
autoridades do mundo se reunião com os seres de outro planeta para falar sobre
sua inesperada chegada.
- Como assim tudo – disse uma das
autoridades das Nações Unidas – mostramos perfeitamente como funciona nosso
mundo.
- Funciona? – questionou um dos
visitantes. Eles realmente se pareciam com as fabulas; pés, mãos, olhos grandes
e gestos limpos. Calmos e pacientes – em nosso planeta esta palavra tem um
conceito diferente, acredito.
- Então nos diga – disse um dos
presidentes da América do Sul.
- Nos perdoem por, talvez, sermos
tão ignorantes diante de suas leis e princípios. Mas me corrija caso estejamos
errados; o conceito de “funciona” para vocês é que a máquina operacional do
mundo continua a girar apesar das dificuldades. Dificuldades essas que vocês mesmos
criaram e as mantém mesmo tendo em mãos total solução para esses males. Delimitaram
terras vastas para depois vender para seus nativos. Criaram sistemas de castas,
quando não explícitos, ocultos por um conjunto de “etiquetas” e regras determinando
quem é o melhor ou pior. Subjugaram seus iguais durantes séculos apenas por não
terem cores parecidas ou terem costumes diferentes de vocês. Trocam alimento
por um papel com um número ou algumas, como vocês mesmo chamam, moedas. Alinhando
assim os que possuem menos destes itens, em situações precárias de saúde,
moradia, alimento dentro outros males. Por alguns motivos que ainda não entendemos,
sua espécie trava guerras sangrentas com irmãos de pátria ou de terras
diferentes. Crescem como uma praga descontrolada consumindo tudo que veem pela
frente. Matam, saqueiam, abusam do poder que acham que possuem. Sua esplendida
criatividade para realizar feitos maléficos para seus próximos é de uma admiração
espantosa. Nos desculpem se a palavra “funciona” não funciona bem até aqui. Vocês
nos disseram sobre seus avanços tecnológicos e crescimento evolutivo, digo porém
a vós, como definem crescimento? Menosprezar alguém que não se encaixa no padrão
hierárquico ou financeiro de sua classe jogando-o aos animais e as margens é
realmente necessário para que tudo isso “cresça”? vocês criaram problemas com o
clima, com a fauna e flora deste planeta com um discurso moralista de ganho e evolução,
deixando sempre aqueles que eram para ser os privilegiados por esses avanços, a
mercê de qualquer possibilidade de futuro. Dinheiro, poder, ilusão.
- Não é bem assim... – gritou uma
voz no silencio do salão principal.
- Não?! Então devo admitir que
nossa espécie não está evoluída o suficiente para entender os Seres Humanos. Centenas
de espécies foram extintas graças a uma espécie de praga que vocês carregam,
que posso aqui chamar de ganância. Uma tentativa desesperada por acumular
coisas que não poderão levar após o fim de suas curtas vidas, vidas essas que
menosprezam com tamanha ética. Vocês criam a doença e depois se regozijam com a
cura, quando na verdade um simples pensamento logico poderia evitar toda pandemia.
Novamente peço desculpas. Poderia ficar algum tempo falando sobre várias outras
explanações que não nos fazem sentido. Sentimentos, doenças, fome, dinheiro,
razão, vida, família, tecnologia, morte – fez uma pausa e olhou ao redor – porém
percebo a cada instante que estão certos demais para vislumbrar vossas decadências.
Alguns olhares temerosos foram
trocados.
- Então o que vieram fazer aqui? –
perguntou o presidente da ONU.
- Sua Terra é rica e poderosa. Na
crença que poderíamos nos aliar a sua espécie traçamos tal viagem. Mas em
acordo com meus iguais, decidimos partir e voltar num futuro próximo.
- Por que essa decisão?
- Somos seres pacíficos –
respondeu se retirando com todos os outros seres – não travamos guerras. Porém,
pelo caminhar lógico de seu sistema que “funciona” tão bem, poderemos voltar em
alguns anos, na certeza que tudo isso que vocês lutaram e defenderam como sendo
o certo a se fazer maquiando essa vontade insaciável de poder, estará reduzido
a pó junto com seus corpos e poderemos iniciar uma nova colônia, com bases
firmes e reais. E novamente nos perdoem pelo incômodo, mas antes de irmos, poderíamos
falar com alguns golfinhos? Seus cérebros evoluídos têm muito a nos ensinar.