Fim de tarde. Pra ela tudo era cansaço e fadiga. O sol já
havia ido embora, aquele frescor de quase noite lhe fez perguntar porque ainda
estava lá. “Não estudei, da nisso”.
O silencio da sala trazia certa paz e apreensão, “afinal
estou só”, qualquer coisa hoje em dia era motivo de desespero. Os jornais
noticiavam coisas horríveis de mulheres que em momentos de pouca atenção não
terminaram onde gostariam. O olhar no relógio do pulso e a pilha de trabalho ainda na mesa, a fez
soltar um suspiro desanimador de trabalho mal feito. Colocou as mãos na nuca
tentando relaxar, sem nenhum sucesso, ergueu seu rosto para o teto com um olhar
triste e pesaroso, “como as novidades são difíceis de serem ouvidas hoje em
dia”. Seu pensamento logo foi interrompido por uma batida na porta. Suas ideias
de assassinato agora a pouco, pareciam mais reais. “Quem é”, perguntou meio
desconfiada sem saber quem responderia do outro lado.
O medo logo dissipou dando espaço a outro sentimento não
identificado no instante. Quem abria a porta sem cerimônias era nada mais nada
menos que um velho amigo de anos. Ela sem timidez logo demonstrou seu
entusiasmo com a visita tão bem vinda e ele como de costume, sem muito tato fez
as velhas brincadeiras já entendida por eles.
Após os abraços e perguntas, “tudo bem, como vai, e o
trabalho, etc”, as explicações da aparição e tudo mais eram discutidas com
humor já a quase meia hora. Sem perceber se pegou olhando para boca dele, “já
provei, excelente produto”, pensou com um sorriso malicioso interno tentando
negar os outros pensamentos que vieram mais rápido do que pudesse evitar.
Quando percebeu que o assunto já havia acabado e ele lhe olhava sem julgamentos
sabendo que varias vezes já a viu com o corpo presente porem a mente distante,
levantou rápido para tentar não mostrar sua leviana imaginação, “quer uma
água?”, perguntou sendo logo interrompida com um “não obrigado, eu pego” que
fizeram os dois se trombarem na ponta da mesa. Com medo de que a pudesse ter
machucado, a segurou pelos braços com cuidado como um paramédico socorrendo sua
vitima e o toque de seus dedos lhe arrepiaram a nuca. Ele parecia ter sentido o
mesmo.
Se pudessem dividir em meses aqueles milésimos de segundos
em que olhou para ele, um país teria sido invadido e devastado pela guerra. Percebeu
que a sensação não era só dela. Com um olhar tendencioso, ele levemente
percorreu seu decote como um lobo para com seu coelho e não conseguiu mais se
prender.
“Delicia”, pensou rápido enquanto ele lhe dava um caloroso e
pecaminoso beijo. Os raciocínios já não faziam mais sentido. Ele a empurrava
pela parede, descendo com beijos suaves e violentos, apalpando-a, tateando
minuciosamente seu corpo como em procura de um tesouro. “Não posso”, repetia em
meios a gemidos ofegantes sem nenhum sucesso de ser ouvida e sem saber se
realmente queria que a ouvisse. Uma presa sem possibilidade de sobreviver. A
alça de sua blusa preta de cetim já estava caída. Já se sentia completamente
molhada entre suas pernas. Ele abria seu sutiã enquanto a beijava delicadamente,
vagarosamente. Uma pequena mordiscada. E os beijos continuavam. “Não..”, sua
frase novamente interrompida enquanto ele se deliciava discorrendo seus lábios
em seus seios como um sorvete, enquanto derrete, que se lambe todos o lados
para aproveitar todo o sabor. A selvageria daquela delicadeza fez com que ela
precisasse de mais oxigênio. Suas pernas já não existiam mais. Como se
soubesse, ele empurrou as coisas de sua mesa e a deitou. Se por sorte dele ou
azar dela, sua saia vermelha predileta fazia parte de seu vestuário hoje. Suas
mãos bagunçavam os cabelos dele, num ritmo descompassado sem muita direção.
Deitada ali, seus olhos abriam e fechavam, sentia seu seio sendo apertado pela
mão dele enquanto a outra descia em direção a sua virilha em passos lentos. La
em baixo ela já sentia ele tocar suas partes úmidas, dançando uma valsa molhada,
fogosa e ardente.
“Para, não faz isso”. Ela sabia onde aquilo ia parar.
Ele lentamente levantou a cabeça, a olhou com um sorriso
malicioso e desceu para sua fonte de desejo. Acabava ali, ela sabia o que
estava por vir. Sentiu um pequeno arrepio percorrer sua espinha, “o que eu to
fazendo, não pos...”.
O beijo de mel. Ela espremia um gemido saboroso, levantando
suavemente sua lombar enquanto sentia seus beijos maliciosos entre as pernas.
Ele a devorava. Já havia feito isso com outros homens, mas nunca sentido com
tanta profundidade tal sensação. Era como se seu corpo estivesse dormente, um
frio na barriga interminável, o coração acelerado, um calafrio maligno subia e
descia sua espinha cada vez que sentia sua língua dançar. “Deve ter alguém
ouvindo”, pensava, tentando abafar o máximo de seus lamentos, e evidentemente,
sem sucesso. Era como estar no ninho de Afrodite provando todos os prazeres e
paixões do olimpo. A pulsação mais firme fazia com que ela se movesse em um
ritmo mais acelerado. Ele sabia como se ouvisse seus pensamentos que a dança
estava terminando e seguia ela no mesmo compasso. Não havia mais mundo, pensamento, matéria.
Seus olhos fechados a levavam em um tubo brilhoso e sem fim. O ar ao redor não
era mais suficiente, tudo estava se expandindo se resumindo em gemidos e
prazer. Sua cintura valsava em um ritmo final. Um desespero tomou conta de todo
seu ser. Ela apertava seus próprios seios violados tentando ainda se prender a
algo real. Impossível. Um turbilhão de puro prazer explodiu. Algo parecido com
um gemido longo saiu de seus labios, seu corpo se reteu por alguns segundos
e... a dormência arrepiou cada pedaço do seu corpo.
Ainda deitada, passou suas mãos na testa tirando devagar o
cabelo do rosto, com um sorriso tímido e ainda de olhos fechados disse para seu
amante; você bagunçou minha mesa.